-AFOGUEI O “JUNINHO”!
Há algum tempo atrás nós trabalhávamos juntas, embora tivéssemos pouco tempo para papear.
Dela eu pouco sabia, além do fato de ser uma senhora muito eficiente, elegante próxima dos sessenta anos, e de que sempre fora muito divertida; porém acabara de ficar subitamente viúva, sentindo-se muito só.
Contou-me certa vez que tivera um casamento como poucas, e logo que menopausou procurou seu médico para fazer as devidas reposições de tudo que tinha direito.
Sentia-se em plena forma física e emocional, e sempre julgou sua vida sexual um termômetro de saúde e felicidade.
“Era um marido para não se botar defeito algum”, sempre dizia ela.
Quando eu a ouvia discursar, eu lhe sorria porque a achava muito divertida, muito de bem com a vida e eu me impressionava com tanta vitalidade.
“Essa mulher é um banho de animação”, era o que eu pensava. “E esse marido então, nem se fale!”.
O marido suscitava a curiosidade da platéia feminina...mas desconfio que da masculina também.
E ocorreu que dia desses nos encontramos de novo.
-Olá que prazer, casou-se novamente? perguntei deveras interessada.
-Que nada, já me separei até do “Juninho”!
-Juninho, o seu namorado?
-Imagine, era só meu “quebra galho”, um que comprei no sexy shop.Do jeito que as coisas andam perigosas, melhor mesmo é nem se arriscar...
Confesso que fiquei meio sem graça, porque ela naturalmente explicou quem era o “Juninho” ao público do entorno, em alto e bom tom, lá no ambiente do meu trabalho.
E não faltou gente interessada na história...do “Juninho”. Uma fila de gente!
E continuou:
-Sabe, na verdade eu fui obrigada a afogar o meu “Juninho” num rio...
-Ah, foi mesmo, mas num rio? Outro alguém perguntou intrigada com o trágico destino dado àquele consolo...
-Pois é, tive um treco de repente, uma dor no peito, e meus filhos me levaram para o hospital. Antes de sair, me lembrei do ‘Juninho”, e pensei: “e se eu morrer?-meus filhos vão encontrá-lo bem escondidinho lá no meu armário. Ai meu Deus, tenho que dar um jeito nele!
Então, levei o Juninho comigo, e no caminho do hospital os fiz parar o carro: filhos, preciso jogar algo no rio.
-Mas mãe, você pode estar enfartada, mãe!
-Pois é isso filho, uma simpatia para infartos. Vou afogar esse pacote no rio.
E contou-me a história como de costume, sempre se divertindo muito... com a vida.
Porém senti um certo ar nostálgico, ao que ela logo me certificou:
-Que pena, era de pilha...tão bonitinho...
Enquanto escrevia eu ia pensando... “isso sim é que é -como se diz popularmente- “afogar o ganso”.
Concordam comigo?
Dizem os ambientalistas, que por aqui se encontra de tudo pelos rios...
Agora sei que de fato se encontra! E como!
E se algum deles já resgatou o inusitado do tal do “Juninho afogado”, aqui deixo o registro de sua trajetória, nessa crônica nada ecológica sobre um “consolo de viúva”, que pelo que pude sentir, depois de afogado, a deixou mais inconsolável do que nunca.
"Também, em tão pouco tempo, viúva pela segunda vez..."-pensei baixo.
E qual a moral da história?
Bem, depois de alguns anos é melhor mesmo começarmos a nos preocupar com o que guardamos nos nossos armários...
Nota:
Fato absolutamente verídico, inclusive a senhora e o seu “Juninho afogado”.