Di Lúvio preparativos p/ o embarque / duo com Di Amaral
Sombrané, incumbido que fora, de dar cabo daquela empreitada, fez-se valer de sua criatividade, para, junto com seu parceiro Di du Mal, planejarem a tal da arca que fora encomendada pela Jeovana.
Era preciso pensar nos suprimentos de água em primeiro lugar, mas, também nos alimentos que seriam consumidos por todos.
Foram projetadas duas enormes caixas d'água, revestidas com cera de abelhas, que receberiam as águas da própria chuva.
Uma para captar e fornecer água potável para todos e outra para fornecer água de banhos e de descargas para os dejetos, que vamos e venhamos seriam uma verdadeira montanha todos os dias, já pensaram nisso?
Os suprimentos viriam principalmente das cinco mil galinhas que foram colocadas à bordo, juntamente com quatro mil quilos de milho, para, no começo do Di Lúvio, fornecerem ovos e quando chegasse mais pro fim, seriam elas comidas pelos humanos e pelos quase humanos, até porque esse tempo seria um bocado longo, pois, além dos 40 dias e 40 noites de chuvas, teriam que achar algum lugar para o desembarque, coisa que não seria nada fácil.
Os outros animais teriam que se virar com os milhares de cachos de bananas que foram colhidos pouco antes do embarque.
O embarque se deu assim que as nuvens negras se avolumaram no horizonte e foi uma correria danada, pois ninguém queria ficar de fora.
Foi um tal de empurra-empurra que durou aproximadamente 24 horas.
Sombrané e Di du Mal, organizaram da seguinte maneira: Animais no andar de baixo, machos e fêmeas separados por fortes grades de madeira.
No andar de cima os seres humanos e quase humanos, também separados, como os animais, com grades de madeira de grande resistência.
No meio, haveria um espaço vazio, que seria na verdade um palco, onde haveria apresentações daqueles que dispusessem de algum talento artístico.
Na cobertura, Sombrané, Di du Mal e as garotas que lhes fossem íntimas... naturalmente!
Num primeiro momento, para aliviar as tensões dos homens e das mulheres, que ficariam, obrigatóriamente, sem sexo normal durante o tempo de reclusão na Arca de Sombrané, foram recrutadas Deusas que tivessem algo de interessante para apresentar aos passageiros daquela embarcação e no final fariam companhia ao Sombrané e seu amigo Di du Mal.
Depois de uma triagem minuciosa foram escolhidas as seguites Deusas:
1) "Amazonarisca quase Qui Séria", Deusa dos chuvas e tempestades, velha conhecida, mais conhecida do que velha, que já estava mudando o seu nome artístico para "Bruxarisca sempre Di Férias", que, por já ter feito um certo nome no pedaço, estava cobrando muito caro pelos seus shows porno-eróticos-sonambulásticos, sem contar o tempo enorme que ficava sem trabalhar, alegando cansaço; mas, ninguém me tira da cabeça que era uma mistura de preguiça com um pouco de charme das superstars. De qualquer maneira, como o show era gratuito, estávamos pagos para ficar quietos.
2) Deusa dos mares e das metáforas, cujo nome artístico era "Ocultando-me, Me oculto nas Marés", famosa por despertar paixões avassaladoras em alguns fãs. Tenho como testemunha disso o meu amigo Di du Mal, prova viva dessa calúnia que estou propagando, sem a menor cerimônia. Além disso, ela terá papel importante na separação das águas, coisa que pela sua intimidade marítima, fará com os pés nas costas ( do Di,rsrsr)
3) Deusa dos fogos e artifícios, conhecida como "Chama Ardente dos Marmanjos", que fazia do seu show -só pra maiores de quarenta- uma sucessão de duetos calientes com os seus inúmeros fãs de carteirinha. Sempre se apresentava esparramada pelas areias de alguma praia misteriosa.
4) Atnômica, Deusa das explosões e afins, também já nossa conhecida de longa data, que além do seu show particular, participaria dos outros shows, soltando fumaças e bombas de efeito especial, fazendo assim uma animação além da imaginação daqueles pobres coitados da platéia. Sua função durante o Di Lúvio propriamente dito, seria de fundamental importância, enfeitando os variados shows, com os seus efeitos bombásticos e pirotécnicos.
5) A Rosa Intergaláctica, Deusa dos Picas-Paus, grande conhecedora dessa raça pra lá de devassa, pois picava o pau o dia inteiro, fazendo grandes estragos entre os marmanjos, que se esgotavam.
Ela seria na verdade de muita valia por ocasião do Di Lúvio, devido à incomunicabilidade entre os sexos. Faria ela uma espécie de controle hormonal dos mais jovens e dos mais tarados.
6) "Maria à Milhas de distância da Mangueira", Deusa dos pagodes e sonetos, que se dispôs a ensinar para os menos bem dotados as manhas de um bom soneto e, como ninguém é de ferro, mostrar algumas composições suas de bons pagodes ( Se é que isso seja de algum modo possível)
O hino daquela jornada, quer dizer, o musicado lema daquela nau sem leme, que navegaria à deriva, era: Navegar é preciso, viver não é preciso....
Os céus estavam em polvorosa, deuses, deusas, semi-deuses e semi-deusas, todos queriam mostrar forças naquela danação, já que era uma raríssima ocasião: a destruição da humanidade. Os deuses mais excitados indagavam se não seria melhor provocar uma tempestade ejaculatória ao invés de uma simples chuvarada de quarenta dias.
Di Lúvio, do alto do Olimpo, recebera a incumbência do saneamento pós destruição,não deixando qualquer vestígio de cadáver de homem ou de bicho, o que seria um risco imenso para a perpetuação dos sobreviventes.
Com exceção de Sombrané e Di du, nenhum mortal acreditava que a grande enchente viria, mas havia um boato de que alguns surfistas estavam pagando pra ver . Outros diziam ter visto belíssimos iates tomando rumo ao sul, com lindas musas complementamente nuas a bronzear no convés. Outros viam grandes bigas voadoras não identificadas a transitar pelo céu. E até transatlânticos e cargueiros foram vistos singrando os mares, sem falar em navios submarinos. Seriam de Atlândida? A verdade é que era uma época de grandes visões!
A bolsa de valores permanecia estável pois, como já dito, poucos acreditavam na hecatombe. Havia até um doido, de nome Paulinho Hecatombe, que vagava encharcado de hidromel fornecido por um deus fanfarrão, profetizando à viva voz e aos quatro cantos como aconteceria a destruição,
E, finalmente a chuvarada chegou pra valer, fazendo a arca flutuar e a ansiedade também. Todos gritavam ansiosos para que fosse dado início ao espetáculo, tão esperado, daquelas grandes estrelas, quase superstars.
Mas, o sucesso havia subido em suas cabeças. Nenhuma delas queria ser a primeira a se apresentar, querendo, naturalmente, que a platéia fosse esquentada primeiro, antes de cair em suas mãos, ou melhor, em suas garras sedentas daquelas deliciosas secreções internas que elas amavam de paixão.
Era água que não acabava mais, que no caso, foi uma verdadeira sorte, por causa do mau cheiro que já se fazia sentir.
Sombrané e Di du Mal, chamaram alguns Deuses que estivessem dispostos a obrigar os passageiros a varrer os dejetos e lavar os recintos a cada 4 horas, pelo menos.
Eram eles:
1) "Depois SóNeto", alcunhado de "Que Deus nos Acompanhe" grande admirador das beldades e gostosuras do pedaço, sem nunca perder de vista a sua maravilhosa fé em Deus.
2) "João Feiomar Colombo" conhecido por sua verve à flor da pele e por não ter papas na língua. Mas, justiça seja feita, só falava verdades nuas e cruas, mais nuas do que cruas, na verdade.
3) "DJ Casebre", que era um dos Deuses do Velho Maranhão, chegado numa MORENA como ele só, que trazia consigo a leveza do senso de humor, tão necessário nessas horas.
Como vocês estão percebendo está sendo díficil entrar na História do Di Lúvio propriamente dito, talvez no próximo conto.
Parece enrolação, mas é que não prevíamos todos os detalhes implícitos nessa aventura fantástica e quase mal cheirosa.