Divagações para mim mesmo

Um ícone

Estamos todos alucinados pela mídia, enlevados pela sublime constatação que um negro chegou ao cargo mais poderoso da terra. Muito me admira, mesmo sabendo que a memória do povo é curtíssima, se é que existe em termos gerais.

"Panis et circenses".Nunca a velha máxima romana foi tão clara. Tentando lembrar fatos do passado político do mundo, vêem-me algumas situações um tanto inusitadas.

Abraham Lincoln foi um analfabeto lenhador que só se formou advogado já com idade avançada, até mesmo para os padrões da época. Até hoje só se explora o fato de ter sido lenhador. Esquece-se o homem e sua capacidade de liderança e carisma para salvar um país. Era o que se precisava naquele momento histórico.Em nenhum momento outro lenhador conseguiu esse feito.

Teve também, sem nenhuma ordem cronológica, um operário sindicalista polonês que virou chefe de estado, e hoje bem poucos sabem seu nome. Teve um preso político na África do Sul, Mandela, cujo único handicap era o de ter sido preso, e solto por forças internacionais que levaram o país a uma abertura. Que, diga-se de passagem, não resolveu ainda os problemas da população pobre. A grande maioria continua escrava, agora de seus próprios irmãos de cor, enriquecidos com as benesses do poder. Ghandi morreu por sua filosofia pacifista, os invasores da Índia largaram o osso após sugá-lo até o tutano, mais por pressões internacionais e econômicas que por livre e espontânea vontade. Até hoje, como em outros lugares, castas, tribos e afins, se matam em nome de uma LIBERDADE que acreditam só existir para eles e seus apaniguados. A Europa abandonou suas colônias por perceber que a manutenção da ocupação sairia mais cara que o retorno. Em todos os lugares ficou mais barato continuar a exploração e manter um títere de plantão com suas idiossincrasias que alimentar todo um povo. A eugenia, gestada pela elite de criadores americanos, foi induzida ao aperfeiçoamento por megalomaníacos alemães, e serviu de bandeira para a execração de toda uma sociedade vencida e arrasada pela guerra (vide Edwin Black em: A Guerra contra os fracos, e A IBM< e o Holocausto). Observamos o crescente poder da mídia, sempre a serviço dos poderosos entulhando as mentes menos precavidas de mensagens cujo único objetivo é acalmar as massas, dando-lhes ídolos de vários feitios. Seja um astro de rock, futebol, arte em geral, cuja única exposição se dá por consumo excessivo de drogas, por exibição e venda do corpo, por associação aos ídolos pré-fabricados, tudo levando os jovens ao descaminho e à desagregação do tecido social. Quando mais não servem aos seus propósitos, são sumariamente eliminados. Nossos ídolos morrem de doenças previsíveis e evitáveis, de overdoses, e levam com eles nosso futuro, nossos jovens. Só é endeusado o marginal, a prostituta, o homossexual, o escandaloso. Nada contra opções de vida de cada um, só é necessário impedir que a exploração do escândalo seja tratada como regra e não como exceção que é.

O poder da mídia, ainda que a comparação seja pobre e até ridícula, nos remonta, para os que acreditam na fé cristã, aos sacerdotes do Templo, Caifás e seus asseclas, que eram a TV, o Jornal, a Net, há dois mil anos. Bastou escolher a dedo a turba que deveria comparecer frente a Pilatos, e deu no que vocês todos sabem.

Barrabás era a fonte de manutenção do poder daqueles homens. Foi um erro de abordagem, concordo, mas estava escrito que assim deveria ser para que se cumprissem as profecias. Sem o crime, o pecado, as mazelas, sem o criminoso, sem as oferendas para apaziguar os deuses, de que viveriam aqueles parasitas.

Fim das divagações. Obama é a bola da vez. Não por ser negro (o que ele realmente não o é), mas por criar a ilusão que todos podem almejar um degrau acima do lôdo onde chafurdam. Milhões de “brancos” jamais terão a possibilidade de passar pela frente dos portões de Harvard. Um homem, no capitalismo selvagem, é muito mais a capacidade de enriquecer os que estão manejando as cordinhas do poder, que uma simples tonalidade de pele. E acreditem, se seu legado proporcionar mais lucro “post-mortem” como Elvis, seus próprios filhos o matarão. Não é Cesar, não é Brutus?

neanderthal
Enviado por neanderthal em 06/11/2008
Reeditado em 27/01/2009
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