PANCADARIAS NO BOTECO

Era uma tarde de sábado, quando o caixeiro, chateado pelo dia que tivera, franzia a testa e fazia “UMA CARA!”. E não era pra menos, depois de atender os mais diversos tipos de bêbados... – imagina o estado psicológico dessa criatura!

O boteco estava lotado; mas era possível perceber, numa mesinha localizada próximo à porta de saída, quatro vestibulandos candidatos à faculdade de cachaçologia. Mais ainda se fizeram aparecer, quando um deles, agressivamente, bateu o copo na mesa, produzindo um ruído que, posteriormente, se faria ouvir desde os ouvidos mais próximos até o caixeiro:

– Aí maluco, esta pinga ta estragada!

– Calma, Zecão! Esqueceu que a gente estamos no boteco do Carlão? Presta atenção irmão.

– Nem Carlão, nem Paulão, nem ninguém... Eu quero é pinga da boa!

– Isso mesmo, Zecão, esta pinga ta uma porcaria – falava o terceiro em voz alta, enquanto o quarto, completamente tomado pela bebida, conseguia apenas emitir uns sons ininteligíveis e estranhos.

Enquanto isso, numa mesinha ao lado, um barrigudo mordia o lábio inferior e resmungava com o seu colega:

– Vim aqui para tomar a minha pinguinha, comer o meu churrasco... e tenho que ouvir essa molecada...

– Hei, parem com essas gracinhas, “menininhas”; senão eu terei que lhes fazer uns “cafunés” – bradou um negão barbudo, cuidando intimidar os calouros com a sua postura imponente.

Segundos depois, ao virar-se para se sentar, depois de haver limpado a garganta e pontuado a ameaça com um soco na mesa (o que além de assustar o parceiro barrigudo, fez pular seu copo, entornando parte da bebida), um jato líquido vazou a sua barba e desceu-lhe pelo pescoço abaixo. O barrigudo não aceitou a agressão ao colega: – Ah, é assim?! – encaixou logo uma cadeira na cabeça do atrevido.

A algazarra se tornou insuportável. Jatos de bebida molhavam os fregueses (estes retribuíam com a mesma agressão). Garrafas, cadeiras, tudo circulava nos ares e atingia aqueles que não tinham nada a ver. Até a mulher do caixeiro, que aparecera não sei de onde, enfurecida por causa de um galo na testa do marido produzido por um “copo perdido”, distribuía tapas e chineladas.

Somente a polícia, depois de meia hora de cassetetes, conseguiu acalmar a situação, levando a maioria algemada para o xadrez. O atrevido, além de tomar outra surra na delegacia, dormiu uma semana na prisão. Depois dessa, ele nunca mais arrumou briga: aprendeu que a vida é feita para ser vivida e não “bebida”.