Aos meus pais
A lua de mel foi em um pequeno hotel. Era apenas um final de semana.
Mas o que era um fim de semana para quem estava planejando passar o resto da eternidade juntos?
O hotel era pequeno, pobre, mas aconchegante.E eles achariam qualquer lugar aconchegante depois das diversas batalhas que tiveram de enfrentar .
Uma delas: Namorar sossegadamente na sala da casa. Uma casa pequena e com quatro irmãos menores circulando a todo o instante.
Um pai desprovido de sensibilidade e quase sempre alcoolizado. Sempre implicando com o namorado e trazendo a bacia para eles lavar os pés para dormir ( maneira sutil que os antigos usavam para mandar a visita embora).
Cansados da situação e como todo jovem casal deve ser não importando a geração, apaixonados e ansiosos por um único momento de privacidade. Pensavam em uma maneira de casar.
O pai intransigente não queria união. Sempre protelando a decisão de dar a mão da filha.
O plano estava traçado. Ela fugia de casa, passava alguns dias escondida na casa do namorado e depois os dois juntos enfrentavam a fera, ele não teria alternativas.
Teria que deixar com que casassem, já que o “mal” estava feito.
A sogra (ambas) estavam de comum acordo, desde que, o “mal” fosse de mentirinha. E assim foi.
Depois do namoro de sempre no sofá da sala. Com os demais irmãos correndo e azucrinando, o noivo foi embora como sempre.
Apenas, não tomou o rumo de sua casa. Ficou esperando pertinho do muro da vizinha escondido atrás de uma enorme figueira.
Ela como sempre escovou os dentes e foi para o quarto. Pulou a janela e foi correndo ao encontro do deu amor.
O pai sairia bem cedo pela manhã, nunca via as filhas neste horário.
Passou três dias na casa do namorado.
Mas sobre o olhar atento da sogra , que não deu folga ao casal. Na hora de dormir a mocinha tinha que ir para o quarto das cunhadas e o rapaz para o quarto dos meninos. Ela por sua vez a sogra, ficava dormindo no sofá que ficava bem na passagem de um quarto para outro.
O pai da moça estava “viajando”, na certa atrás de algumas moçoilas de baixa ralé, ou curando de alguma bebedeira.
Quando voltou depois de dois dias para a casa soube do “desaparecimento” da filha.
É claro que toda a família sabia onde ela estava. Ela contava com o apoio de todos, já que de outra forma nunca iria escapar do tirano papai.
Aproveitando um de seus raros momentos de sobriedade ele foi atrás da moça.
Depois de alguma conversa. Já que conversar não era um dos fortes do sogro tosco, ficou marcada a data do casamento.
Ele jovem servindo no quartel. Ela apenas dezesseis anos.
O hotel foi presente do pai do noivo. A festa com bolo e grapeti presente da mãe da noiva.
O pai nem preciso contar, é claro que sempre voltava sem nenhum tostão para a casa , deixava sempre pelos botecos do caminho.
O casal está junto até hoje. Vivem sua vida pacata em um sítio muito bem cuidado e erguido pelas mãos unidas dos dois.
Literalmente eles fizeram tudo sozinhos, trilharam seu caminho vencendo as dificuldades da vida.
Sempre juntos. Criaram três filhos. Filhos que hoje tem suas famílias para criar.
Sou eternamente grata ao ato de bravura dos dois. Meus pais queridos.
Que viveram suas vidas com muita dificuldade, luta e amor. Que hoje sempre tem um sorriso, um chimarrão a oferecer.