Um Grande Árbitro
Quando alguém for falar em juiz de futebol, normalmente vai lembrar-se de Mário Gonçalves Vianna, isto é aqueles que o viram apitar. E eu tive esse privilégio.
Podia ser polêmico, gostava de valorizar-se, ser até prepotente. Mas ninguém poderia acusa-lo de desonestidade. Falhas as tinha também, como qualquer ser humano. Mas era valente, corajoso e não se intimidava com torcidas ou com jogadores que gostavam de mandar no jogo.
Apitou muitos jogos no Rio de Janeiro, Campeonatos Carioca e Paulista, Campeonatos Sul-Americanos e Copas Roca (disputada entre Brasil e Argentina) e Rio Branco (disputada entre Brasil e Uruguai), e impunha respeito.
Em 1953 em Lima, no Peru, iriam jogar Peru e Uruguai, pelo Campeonato Sul-Americano daquele ano. Havia um clima muito pesado no ar e todos diziam que o jogo seria só pancadaria e brigas. O time do Uruguai era uma seleção envelhecida, com muitos jogadores da Copa de 1950, com Obdúlio Varella dando as ordens. E o Peru, jogando em casa tinha uma defesa que não alisava, com Calderón e Heredia, que amedrontavam qualquer atacante.
Então Mário Vianna, que fora escalado para apitar essa partida, chamou os dois times no centro do campo e disse-lhes: “Os senhores estão aqui para jogar futebol e não para dar coices. Irá ganhar aquele que jogar melhor. O primeiro que der uma entrada desleal eu expulsarei do campo. E não chamarei a polícia para tirar o agressor da partida. Eu mesmo o tirarei, pois não tenho medo de caras feias”.
E acrescentou: “Sr. Obdúlio Varella e Sr. Mário Calderón, como capitães de seus times, têm o dever de me ajudar a conduzir este espetáculo até o fim”.
Terminada a partida, com Uruguai e Peru empatando por 1 a 1, sem que houvesse a menor anormalidade, os jogadores fizeram uma fila indiana e vieram cumprimentar o Sr. Mário Vianna. Uruguaios e Peruanos saíram de campo abraçados e ovacionados pela grande partida realizada.
Eu fui testemunha de uma passagem entre A. A. Ponte preta e S. E. Palmeiras. Assisti aquela partida do alambrado, e o árbitro era o Sr. Mário Vianna.
Presenciei um diálogo entre alguns jogadores da Ponte Preta e do Palmeiras. O jogo estava um pouco ríspido. Então, depois de uma falta de um jogador da Ponte, o Sr. Mário Vianna parou a partida e disse: “ Se mais algum jogador fizer uma falta violenta eu ponho para fora, e não adianta espernear pois se não acatar a minha decisão sou muito homem para levá-lo para o chuveiro”. Depois disso a partida prosseguiu com a maior disciplina possível.
Escrevi esta crônica para homenagear o maior árbitro que eu vi na vida, o Sr. Mário Gonçalves Vianna.