Ordinário, marcha!
Era a pior hora, sob os ríspidos e encrespados comandos de Sô Demar. E até que ele tinha razão na brabeza. Por outro lado, tampouco era fácil acertar o passo na preparação para o desfile de aniversário de Pitangui, ou para algo ainda mais solene como o Sete de Setembro de nossa Independência. Afinal, na rabeira da fila, pela ordem de tamanho, a chance de ver mais de perto a turma da charanga, ou ainda algo mais cobiçado como a evolução das balizas, se zero não era, não passava de quimera...
Mas, vá lá. Sô Demar, que, acredito, tinha uma formação militar, além de responsável pela praça de esportes da cidade, era um competente professor de educação física que, como ginasianos naqueles anos da década dos sessenta, tínhamos que enfrentar uma vez por semana fora dos horários das aulas. Sua prática principal, que durava cerca de meia hora, e a que denominada de ginástica sueca, consistia em cinco etapas que iam de uns movimentos saltitantes, a uma evoluções no solo, facilmente assimiláveis por jovens adolescentes não-obesos... sempre animados pela sessão de relaxamento que acontecia, logo após a ginástica, que não durava mais do que uns vinte minutos e que consistia num racha, ou pelada entre duas metades da turma...algo como vinte para cada lado...
Ao longo de quatro anos, que correspondiam às séries ginasiais, eu amante inveterado do futebol ansiei por fazer um gol - para chegar em casa todo prosa da proeza para deixar papai orgulhoso - mas, porém, contudo, todavia e no entanto, não logrei materializar tal alvitre... E aí é que vinha, além do desacerto na marcha, a inveja do Marcinho da Lia, colega de uma turma um ano mais jovem que, mesmo sendo um peladeiro de minha rua pouco ou nada expressivo, raramente passava uma sessão sem deixar o seu tento...teria mais sorte ou mais compreensão tática de posicionamento do que eu? Na certa, as duas coisas...
Frustrações a parte, o velho instrutor Sô Demar, deixou saudade. E como legado, um meu colega de turma, o Gilberto, el inglés, Bécaud, não só seguiu seus passos como instrutor de educação física, herdou-lhe também o apodo: Sô Demar.