Pequena ode a Jim Morrison
Nos oitenta anos que faria hoje o poeta,
filho ilegítimo de uma Flórida,
leste careta e infame,
por ele caçoada do outro lado californiano
e sombrio da América pós-beat.
The west is the best!
Imerso de sujo couro preto, peyote e rock`n`roll,
contraponto absoluto dos idos hippies e Vietnã,
nos whiskys, go-go gilrs, bataclã,
nos hotéis baratos de Los Angeles,
nas portas febris e lisérgicas da percepção,
vate de carnificinas, exangue lassidão.
O poeta não percebeu, mesmo assim,
que se perpetuou nos laivos agudos,
cinematográficos e loucos,
nas highways malditas,
nas indígenas danças ancestrais,
lagartos de fuligem,
nos anos de glória, mitológicos e poucos,
na queda, na vertigem, delírios irreais,
no elétrico dom,
na música, sua única amiga,
derradeira e mortal,
na poesia, no teatro da tragédia,
na rebeldia, na heresia, no som.
Jim Morrison atravessou rompendo para o outro lado.
Será?
Seu espectro,
esquálido e cambaleante,
continua assombrando por aqui.