AO DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA

 

 

MEU NÃO-LUGAR DE FALA OU MEU CANTO NEGRO – Zuleika dos Reis

(Minha homenagem – nesta escrita de primeira, neste agora, uma hora da madrugada de 20 de novembro de 2023) – ao Dia da Consciência Negra)

 

 

Sou uma mulher branca

Uma mulher morena

Não sou uma mulher negra.

 

Sou uma árvore caída

Desde as raízes negras

Sobre o chão inundado

Pelas águas.

 

Não sou uma mulher negra.

 

Sou uma mulher velha

Uma velha morena

Se preferirem

Uma velha branca.

 

Não sou uma mulher negra.

 

Tenho muitos amigos negros

Negros de todos os tons de negro.

São lindos

Como são lindos

Cada um dos meus amigos negros.

 

Eu não sou uma mulher negra

Por isso falo

Fora do meu lugar de fala

Como se negra fosse.

 

Como se negra fosse, falo,

Eu, mulher branca triste,

Se preferirem,

Uma mulher morena triste

Uma negra mulher branca triste

 

Que há também

Uma senzala na minha alma

Apesar de um 13 de maio de 1888

Principalmente por um 14 de maio de 1888

 

Quando de repente livre

Sem um tostão no bolso

Sem trabalho

Sem carteira de trabalho

Sem profissão

Na eira sem beira de um caminho

 

Por isso os meninos negros

As mulheres negras

Os homens negros adultos

Morrem mais

Morrem muito mais

Do que todos nós

Brancos, morenos claros

 

Muito mais

Do que eu

A usurpar um lugar de fala

Para ter um lugar de fala

Neste momento da vida

Em que não tenho nenhum.

 

 

Comentário de Cláudio Carvalho Fernandes:

 

 

Muito bom: Parabéns, por sua escrita magistral, logo de primeira, e por esta sua belíssima homenagem ao Dia (Nacional, brasileiro) da Consciência Negra. Muito boa a sua criatividade e grande consciência sobre o 14 de maio de 1888, demonstrando inteligência e criticidade quanto ao atual panorama da sociedade brasileira e sua evolução histórica. Tenha um muito bom dia para você (a senhora) e para todas e todos que lhe fazem feliz. Abraço e saudações poéticas soliDárias.