À nossa Musa e Diva Magistrada Milce. Por que não 1000ce???
À nossa musa Magistrada Milce.
1000ce, por que não?
Milce, como é chamada, nasceu em Santos Dumont, foi para Visconde do Rio Branco, onde se casou, professora de escol, possui um casal de filho, Ronaldo e Pollyanna. Nomeada juíza mudou-se para Cachoeira de Minas, sua primeira Comarca, onde o marido faleceu. Promovida para Andradas, onde judiciou por muitos anos, até sua merecida aposentadoria.
Doutora Milce, juíza de Direito aposentada, arrastada para seu merecido descanso. Perdeu a Magistratura uma Magistrada ímpar, diferenciada, reconhecidamente, uma diva, musa da Instituição.
Aposentar-se é tempo de viver aquilo que durante jornada ativa essa mulher cheia de vitaliciedade e dona de uma figura altiva e de vaidade magistral, não teve tempo de viver.
Aposentar é tempo de abrir o coração, a mente, o espírito e os sentidos, para sentir, ouvir e perceber-se parte do Universo. Agora o Universo fora do estressante mundo da magistratura.
Aposentar-se foi a maneira escolhida pela nossa Diva de agradecer por tudo o que conquistou e, sobretudo pelo que se tornou.
Aposentou-se, com certeza, para que o tempo de fazer escolhas, de fazer aquilo que lhe dá prazer, pudesse propiciar-lhe a fazer novos amigos, viver novas alegrias, aventuras e venturas, e dar sentido ao companheirismo.
O importante nesta fase de nossa inspiradora Magistrada é que ocupa-se com o seu tempo livre dedicando-se ao lazer, abrindo as portas de sua casa para receber amigos, familiares e dar aquilo que outrora não tinha, mas agora tem sobrando: “o seu tempo”.
Ocupa-se o tempo para ouvir, elogiar, comemorar, visitar, contar histórias, piadas, tempo para rir e para chorar, tempo para escrever, tempo para buscar, resgatar familiares, pessoas esquecidas, tempo para jogar, ler, fazer palavras cruzadas... tempo para repartir suas experiências, seus saberes.
Enfim, aposentou-se e resgatou o tempo de observar as pequenas coisas, de perceber que tudo é importante e que tudo faz parte do Universo. Aposentar-se para sentir o tempo de mudanças, mudar os conceitos, os hábitos... que é tempo de buscar a sabedoria, o silêncio, de ouvir a chuva batendo no telhado, de sentir o vento balançando as folhas das árvores, de perceber a beleza da flor, de perceber que tudo o que a rodeia é importante e tem o seu valor, de perceber que a sua verdade pode não ser uma verdade verdadeira.
Aposentou-se para sentir-se que é tempo de metamorfose, de desafios, de perdas e ganhos, é tempo de compreender que nada é eterno, que a vida está em permanente mudança.
Aposentou-se para descobrir que ainda é tempo de ser FELIZ!
Mas a aposentadoria dessa grande e incomparável Diva, com pose e dote de modelo, com sua vaidade pessoal sempre nas alturas, despertando o interesse, a admiração pelo seu conjunto de ‘femme fatale’, propiciou-lhe oportunidade para, agora com tempo bem mais livre e dono dele, que se tornasse a amiga de todos e todas, e sempre com uma palavra de apoio e incentivo, de carinho e disposição para fazer o bem como se adolescente fosse.
O valor das grandes pessoas (homens/mulheres) mede-se pela importância dos serviços prestados à sociedade e a humanidade. Antes de ingressar no mundo Judiciário, nossa Musa foi professora, viveu nesta função a oportunidade de conhecer as mazelas de uma sociedade carente de instrução básica e de cultura fundamental para alforriar-se de vassalagem e de escravidão a que se submetiam as pessoas desprovidas de um mínimo de condições materiais para sua sobrevivência digna. Mas tornou-se uma professora com uma missão jesuística, abrindo mentes e corações com o seu saber.
Na Comarca de Andradas, cidade que a adotou como filha, virou referência e foi reverenciada no mundo jurídico, sendo uma das grandes notáveis em juris que entraram para a história da região. O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por viver de forma tão intensa, a mestra teve seus méritos reconhecidos mais tardiamente ou não pelos seus colegas magistrados e pela Instituição Poder Judiciário, e pelos seus jurisdicionados.
Embora vocacionada para servir sem servir-se do cargo de magistrada, Milce sabia que seu destino estava no Direito e na sagrada missão de distribuir justiça.
Se existem pessoas incomparáveis, Milce é uma delas, que entram em nossa vida por acaso, mas não é por acaso que permanecem em nossa mente e em nosso cotidiano. Já li em algum lugar que as únicas pessoas que nunca fracassam são as que nunca tentam. Não foi o seu caso. Que o digam aqueles que com ela conviveram, como o nosso colega José Luiz dentre tantos outros.
Fico a matutar: cada pessoa que passa em nossa vida é única e nenhuma substitui a outra. Cada pessoa que passa em nossa vida passa sozinha e não nos deixa só porque deixa um pouco de si e leva um pouquinho de nós. Essa é a mais bela responsabilidade da vida e a prova de que as pessoas que conheceram e conhecem a Diva Milce e sua doçura não se encontraram com ela por acaso.
Nossa Musa Milce prestou grandes e relevantes serviços a sua terra, Andradas como uma juíza justa, sensível e humana. Sua lição de vida faz lembrar o insubstituível Charles Chaplin, que dizia que “a vida é maravilhosa se não se tem medo dela”.
Magistrada que nunca teve medo de nada, a não ser dos castigos de Deus. Altiva, correta e justa. Na vida, conhecemos pessoas que vêm e que ficam. Outras que vêm e passam. Existem aquelas que vêm, ficam e depois de algum tempo se vão. Mas existem aquelas que vêm e se vão com uma enorme vontade de ficar. Milce, a Diva da Magistratura, é uma dessas.
No entanto, os que percebem a verdadeira dimensão de cada ato da vida, verão que ela é um componente existencial na caminhada traçada, que aqui estamos, todos, para ir além do apenas visto como uma mera homenagem, pois que passou a integrar o instante maior da vida de uma magistrada: o de ascender ao último degrau de máximo reconhecimento por toda magistratura e passou a assentar-se entre os que, antes chegados, como os que haverão de chegar, têm o dever de honrar o nome, a tradição e a cultura de uma magistratura, que mineira, tornou-se orgulho do Poder Judiciário.
O reconhecimento pela sua importância como mulher, esposa, mãe, juiz, amiga não é um ato a mais, não é a rotina a se repetir. É muito mais do que isso: em seu simbolismo, o reconhecimento, representa um tempo que não se repetirá nunca. Assim deve ela na sua alegria ser vivida, pois representa o ponto-base, início de outra dimensão, que, mesmo integrada em uma igual missão, a de continuar sempre juíza, representa um novo tempo para quem nele se inicia.
E você, Diva, sem dúvida uma das mais brilhantes juízas que integrou o Poder Judiciário de Minas Gerais, aquela que, mais do que qualquer outro, como já disse o poeta, vive “com os olhos abertos para a eterna novidade do mundo”, tem plena consciência do reconhecimento, respeito e admiração que seus pares devotam.
Sendo mulher culta, tem sabedoria para sentir a sua missão histórica e sabe que nunca ficou aquém do limite desse atuar, pois isso representaria a própria negação de seu agir. Feliz da mulher que tem a consciência do seu próprio eu, de sua capacidade de descobrir caminhos, na busca honrada e ética de um ideal, usando da inteligência para sedimentação das forças necessárias e dos conhecimentos indispensáveis para o agir na profissão abraçada. Sabendo que a busca da cultura jurídica, a permanente obtenção de conhecimentos, o estudo e a pesquisa pelo novo é que a tornou a magistrada atualizada e sempre pronta e preparada para enfrentar e compreender os problemas sociais e procurou, com
suas decisões, a mitigação dos dramas pessoais, ocê, Musa da Magistratura mineira, enriqueceu e ainda enriquece sua vida na busca desses objetivos que são eternos, e dá exemplo para quem te cerca.
Sua condição de Professora antes de tornar-se uma magistrada deu-lhe mais visão do mundo e mais sensibilidade para os problemas sociais. Sua passagem pela judicatura, onde em sua Comarca de Andradas deixou a marca e Grande mestra do direito.
O traço de sua presença, sempre foi a participante permanente de congressos nacionais e estaduais.
Acima de tudo, Milce, a Diva, é a magistrada que sempre manteve compromisso com a ética, compreendida esta como voltada para ação, direção e disseminação dos mais importantes valores sociais e morais. Em verdade, sempre colocou a ética no seu mister de magistrada, na busca de soluções para conflitos individuais ou interesses difusos, e com essa sua preocupação, no vislumbrar as inovações trazidas pelo mundo, não ficou apenas como uma reprodutivista, mas com sua percepção, revelou-se uma reformadora no pensar e no agir.
Por conta disso, a Diva tem a consciência plena de que não basta conhecer palavras, mas fundamentalmente, entender sua força e seu poder. Assim, nas suas sentenças, sempre buscou seus significados lógicos, aplicando a lei com exata valoração dos fatos, tentando chegar à essência do conhecer social, como deve a lei ser sentida e pensada pelo povo. E acima de tudo, com a consciência de representar um poder, aquilo que Rui Barbosa já proclamava: “é o grande poder, é o poder dos sacerdotes diante das armas desembainhadas ou em presença de uma multidão cega; é o simples poder da palavra, do raciocínio e da justiça”.
É uma honra, Musa, para qualquer juiz ter a Juiza Milce na conta de ser sua amiga, pois ela é uma pessoa que alimenta o sentimento da fé, que supera os receios.
Em meu nome, devo dizer que tenho, como os que comigo se iniciaram na magistratura, admiração por sua presteza ao decidir, na solicitude com que atende aos mais jovens, aconselhando, mostrando caminhos, sempre com disponibilidade e em qualquer momento. Querer ajudar e auxiliar os colegas é virtude própria dos desprendidos, daqueles que têm a exata compreensão de seu próprio saber. Milce, ao longo de sua vida, armou-se de inestimável bagagem cultural.
Pois bem, todas essas aquisições e valores, não guarda como tesouro individual, no egoísmo ou nas vaidades tantas vezes encontradas. Ao contrário, sempre partilhou e compartilhou com os que dela se acercam, menos experientes, na busca de uma orientação.
Além de colega que sou na magistratura, tive o enorme prazer e a honra de privar de sua amizade, mas nesta hora, ponho entre parênteses a amizade, para cingir-me apenas ao magistrado e ao cultor do Direito. Tenho certeza de que o Tribunal de Justiça de Minas Gerais honra-se tendo-a por integrante de seu quadro de Magistrados.
Este reconhecimento é seu por conquista, por merecimento, e, assim, tenho absoluta certeza de que pode repetir as palavras do apóstolo, destacando sua vocação: “combati o bom combate, guardei a minha fé”.
Por oportuno, coroando o que já era, e é do conhecimento de todos, vejam o que o Colega Nicolau Masselli verberou sobre a nossa 1000ce, por ocasião dos preparativos do funeral do incomparável Desembargador Reinaldo Ximenes: “Minha querida MILCE. Só tenho a agradecer a essa figura tão linda, por dentro e por fora! Primeiro pensando nos colegas quando comprou aquela maravilhosa coroa de flores para homenagear o nosso saudoso Ximenes! Agora, além de prestar contas, o que seria absolutamente desnecessário, remete a sobra (vamos chamar assim) para a Nutris. Tenho certeza que todos nós concordamos e te abraçamos por tudo que fez por nós... Um grande e fraternal abraço!!!”.
Minha pequena homenagem, a minha, sua e nossa Diva ‘1000ce’.
Guaxupé, 22/05/23
Milton Biagioni Furquim
Juiz de Direito