MINHA CUNHADA IRMÃ

Ela nasceu em outras terras, mas depois que veio pra nossa não quis mais voltar pra sua. Acha que o português é mais carinhoso que seu idioma natal. Com quase cinquenta anos no Brasil, mantém o sotaque que a torna única - não seria tão legal se tivesse entendido se aquelas pedrinhas no jardim são "a brita ou o Brito". Ela foi uma das pessoas que me fez entender na prática como é complexa nossa querida Flor do Lácio.

Com seu olhar atento e tom de voz meigo, me ensinou que comunicação é muito mais que palavras. Assertiva, consegue falar verdades sem agredir e dá risada das próprias quedas. Criar quatro crianças entre dois idiomas e vários sotaques das diferentes regiões em que viveu, do interior das minas gerais aos pampas gaúchos, é tarefa para poucas. Essas crianças cresceram multilíngues, já que tiveram que aprender a driblar a seriedade da mãe, a espirituosidade do pai, a nordestinidade da avó, a rebeldia das tias e dos tios daqui e o estrangeirismo dos avós e tios de lá. Mistura que resultou numa linda trupe.

E agora, querida? A vida acaba de lhe puxar o tapete. Talvez a maior de todas as puxadas? Não vejo você cair. Vejo você seguir em frente, mantendo a serenidade que lhe é característica, cuidando das pessoas que ama, acreditando que viver é mais do que comer, dormir e levantar. De uma coisa tenho medo: de que você não se deixe cuidar. E digo mais: estou aqui para rir ou chorar com você.