SUKI - PARA SEMPRE- GRATIDÃO.
Era domingo. O sol convidava ao passeio ou para alguma atividade ao ar livre. Não lembro exatamente o motivo, mas o destino, de alguma forma, sabedor dos meus mais secretos gostos e desejos, acabou por me guiar à uma dessas feiras, onde, quase sempre, costumamos encontrar de tudo um pouco. Não procurava por nada específico, apenas, caminhava e observava a variedade de produtos oferecidos. Quando, novamente, me deixei guiar por esse tal destino e, de repente, me vejo num determinado local onde acontecia uma exposição de filhotes, no caso, caninos. Havia filhotes à venda das mais variadas raças e preços. ( Infelizmente, na época, eu ainda não havia despertado para a importância da adoção de animais ao invés da compra. No entanto, pouco se importou o destino com isso...levada pela compulsão que sinto pelos animais, principalmente, pelos cães, acabei por compactuar dessa prática tão descabida, ou seja; o comércio dos mesmos e, paguei por um deles). Não resisti...lá, estava ela. Tão pequenina...misturada a outros cãezinhos da mesma raça. Era a menor de todos, escondida dentre os demais. O lacinho vermelho que enfeitava-lhe a cabeça parecia maior do que o corpinho. Não havia como resistir; claro, em pouco tempo, estávamos nós, no lar, novo lar. SUKI foi o nome de batismo. E tantas foram as farras...O que lhe faltava no tamanho sobrava-lhe na esperteza. E foram também, tantos os sustos...Lembra, minha Sukinha? Quando teve o pescoço preso no portão? Ahh que susto enorme você me deu! Várias foram as tentativas até conseguir te libertar. E, os presentes no meu colchão quando eu saía e te deixava sozinha em casa, lembra? Nossa! Como aquilo me deixava aborrecida. Fazia de banheiro o meu colchão!!! Aprontava tantas...As visitas eram recebidas de forma, irresistivelmente, "carinhosa" quando seus dentinhos afiados agarravam-lhes os pés num gesto educado de boas vindas...rs. E as fugidas? Quantas vezes fugiu sem que ninguém percebesse e me deixou no desespero achando que nunca mais voltaria. E quando entrou na casa do vizinho e encarou, corajosamente, dois weimaraners? Que sustão foi esse!! Achei que nunca mais a veria...inteira. Mas nossa relação, claro, não foi só de sustos. Tivemos, também, momentos engraçados de risadas gostosas e rabinhos abanando. Quando você, por exemplo, pegava seu pratinho e num acesso de fome e "fúria" o atirava aos meus pés exigindo sua ração...rs. Minha lindinha...tinha umas manias estranhas, às vezes. Assumia um lado felino e dormia dentro de caixas de papelão, dentro de bolsas de compras, dentro dos guarda-roupas, na fruteira...rs. Não era muito de chamego mas gostava de ficar juntinho e, dessa forma, fazíamos companhia uma a outra. E como amava crianças! Será por que assim como você, elas possuem pureza na alma? Ahh minha linda, lembra dos passeios de carro? Como você amava aquele ventinho de liberdade que entrava pela janela...Mas o tempo chegou pra você também, não é? Os olhinhos travessos que enxergavam as coisas boas da vida foram ficando embaçados. Sua mobilidade foi, aos poucos, ficando limitada. Por duas vezes, caiu sem querer, na piscina, felizmente, consegui chegar a tempo de te devolver à vida. Porque parte da sua vida minha lindinha, era também, parte da minha. Contudo, infelizmente, a doença avançou, os remédios e as internações já não faziam efeito e, seu olhar, antes com tanto brilho, já mostrava cansaço e desânimo. Têm vezes, que me pego a perguntar por qual motivo nos apegamos tanto a esses bichinhos; carência? Solidão? Daí, eu mesma respondo: acho que não. Acho que é defeito de nascença. Tem gente que nasce com o coração maior, onde dentro cabem mais coisas, mais sentimentos. E a gente acaba entendendo que esses bichinhos nos ensinam o verdadeiro sentido da vida. Com base no amor, no carinho, na pureza, na beleza, na reciprocidade de afetos. Dessa vez, minha amada, não consegui te salvar; nem eu, nem ninguém. Seus olhinhos, antes, embaçados, enxergam, agora, o azul do céu. Voa minha pequena! Renova seu espírito aventureiro e brincalhão, renasça entre nuvens e volta alegrando outros corações, da mesma forma que, em vida, fez sorrir minha alma, nesses treze anos de companheirismo e dedicação. Gratidão, meu anjinho de quatro patas. Um pedacinho meu foi embora com você, mas ficou você inteira dentro do meu coração.
Elenice Bastos.
(Pequena homenagem à minha Shitzu, agora, com São Francisco de Assis).