O MAIOR POETA ITALIANO DOS ÚLTIMOS 500 ANOS
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O maior poeta italiano dos últimos 500 anos foi Giacomo Leopardi (1798-1837), uma das figuras mais importantes da literatura mundial e um dos principais expoentes do Romantismo literário europeu. Devido à profundidade de sua reflexão sobre a existência e sobre a condição humana -de inspiração sensista e pessimista– Leopardi foi considerado um filósofo de alto valor, precursor do Existencialismo. A extraordinária qualidade lírica de sua poesia fez dele um protagonista central no panorama literário e cultural europeu e internacional.
Giacomo Leopardi foi vítima de um problema cerebrospinal, de asma e de cegueira progressiva de um olho que o levaram a buscar no estudo e na solidão lenimento para o seu sofrimento físico e o seu pessimismo cósmico. O poema aqui apresentado, o último escrito pelo poeta, foi redigido em 1837 pouco antes do seu falecimento por edema pulmonar aos 39 anos de idade. Na minha opinião, é o mais bonito de todos.
Tentei fazer uma tradução o mais possível fiel ao texto original, mantendo as rimas mas, infelizmente, nem sempre foi possível respeitar a métrica.
IL TRAMONTO DELLA LUNA
(O OCASO DA LUA)
Qual em noite solitária
sobre campos prateados e águas,
lá onde zéfiro adeja
e mil vagos aspectos
e enganosos objetos
fingem as sombras distantes
entre ondas tranquilas
e ramos e sebes e morros e vilas;
alcançada a raia do céu,
trás dos Apeninos ou Alpes, ou do Tirreno
no infinito seio
desce a lua; e se descora o mundo;
somem as sombras, e uma
escuridão o vale e o monte abruma;
cega a noite resta,
e cantando, com mesta melodia,
o extremo alvor da luz que se deslava,
a que antes o guiava,
saúda o carroceiro de sua via;
tal qual vanesce, e igual
deixa a idade mortal
a juventude. Fogem
as sombras e as aparências
dos deleitosos enganos; e somem
as longínquas esperanças
onde se apoia a mortal natura.
Abandonada, obscura
resta a vida. Nela pondo o seu olhar,
busca o confuso andarilho em vão
do longo caminho que avançar se sente
meta o razão; e percebe
que a si a humana sede
ele a ela veramente é feito estranho.
Demais feliz e leda
a nossa mísera sorte
foi no céu tida, se o juvenil estado,
onde cada bem de mil penas é fruto
durasse todo da vida o curso.
Mite demais o decreto
que sentencia cada animal à morte,
s’inda da via no meio
a eles não se desse o anseio,
da terrível morte bem mais duro.
De intelectos imortais
digno achado, extremo
de todos os males, acharam os eternos
a velhice, na qual ficasse
incólume o desejo, a espera extinta,
secas as fontes do prazer, as penas
maiores sempre, e nunca dado o bem.
Vós, outeiros e praias,
caído e explendor que no ocidente
prateava da noite o véu,
órfãs ainda por muito tempo
não ficareis, que do outro lado
logo vereis o céu
clarear novamente, e outra alvorada:
à qual logo sucedendo o sol
e fulgurando tudo
com suas chamas possantes,
as lúcidas torrentes
inundará convosco os etéreos campos.
Mas a vida mortal, depois que a bela
juventude sumiu, não se colora
de outra luz jamais, nem doutra aurora.
Viúva é até o fim; e à noite
que cada idade obscura
sinal puseram os Deuses a sepultura.
PARÁFRASE DO TEXTO
Quando a lua se põe, depois de atingir o horizonte do céu e vai além dos Apeninos ou dos Alpes ou do infinito seio do Mar Tirreno, após ter brilhado em noite solitária sobre campos prateados e sobre as águas, lá onde o vento zéfiro adeja e onde as sombras distantes formam reflexos encantadores entre as ondas distantes, entre os ramos, as sebes, os morros e as vilas; quando a lua vanece além do horizonte e o mundo perde a luz, as sombras da noite desaparecem e uma escuridão total e densa escurece os vales e os montes, a noite enfim fica cega e o carroceiro, cantando uma triste melodia, saúda de seu caminho a última luz que vai embora, a que até pouco tempo fora seu guia.
Da mesma forma, a juventude some e deixa a vida dos homens em uma condição desoladora. As ilusões desejadas e falsas vão embora, e as esperanças enganosas nas quais repousa a natureza mortal falham. A vida permanece escura e abandonada. O viajante, atordoado e desnorteado, busca em vão, na velhice, o propósito e o fim de sua longa jornada; e o homem percebe que a terra, durante a velhice, se torna uma estranha para ele e ele se torna um estranho para ela.
Nossa existência pareceu feliz demais aos deuses se a juventude, em que todo prazer é fruto de mil penas, durasse a vida inteira. O decreto sentenciando que todo animal está fadado a morrer pareceu brando aos deuses, se eles, durante a vida dos homens, não lhes tivessem dado uma idade mais terrível que a própria morte. Por isso os deuses conceberam a velhice, que é um achado digno de intelectos imortais e o pior de todos os males, pois o desejo ainda permanece ileso, inalterado e forte, mas as esperanças se foram, as fontes do prazer secaram, as dores estão sempre maiores e o bem mais não é dado.
Vós, montes e praias, depois que o luar, que tornava o céu prateado, se pôs a oeste, não ficareis sem luz porque logo depois vereis o céu a leste embranquecendo e vereis o nascer do sol novamente ao amanhecer, e depois o sol que, com seus raios poderosos, atinge a terra e o céu. Mas a vida mortal, depois que a bela juventude desapareceu, não é mais colorida nem com luz nem com outras auroras. A vida continua triste e infeliz até o fim; e os Deuses acabam com a velhice, que oprime e fecha todas as outras eras anteriores, com a sepultura.
Texto original em italiano:
Quale in notte solinga,
sovra campagne inargentate ed acque,
lá ’ve zefiro aleggia,
e mille vaghi aspetti
e ingannevoli obbietti
fingon l’ombre lontane
infra l’onde tranquille
e rami e siepi e collinette e ville;
giunta al confin del cielo,
dietro Apennino od Alpe, o del Tirreno
nell’infinito seno
scende la luna; e si scolora il mondo;
spariscon l’ombre, ed una
oscuritá la valle e il monte imbruna;
orba la notte resta,
e cantando, con mesta melodia,
l’estremo albor della fuggente luce,
che dianzi gli fu duce,
saluta il carrettier dalla sua via;
tal si dilegua, e tale
lascia l’etá mortale
la giovinezza. In fuga
van l’ombre e le sembianze
dei dilettosi inganni; e vengon meno
le lontane speranze,
ove s’appoggia la mortal natura.
Abbandonata, oscura
resta la vita. In lei porgendo il guardo,
cerca il confuso viatore invano
del cammin lungo che avanzar si sente
meta o ragione; e vede
ch'a sé l’umana sede,
esso a lei veramente è fatto estrano.
Troppo felice e lieta
nostra misera sorte
parve lassú, se il giovanile stato,
dove ogni ben di mille pene è frutto
durasse tutto della vita il corso.
Troppo mite decreto
quel che sentenzia ogni animale a morte,
s’anco mezza la via
lor non si desse in pria,
della terribil morte assai piú dura.
D’intelletti immortali
degno trovato, estremo
di tutti i mali, ritrovâr gli eterni
la vecchiezza, ove fosse
incolume il desio, la speme estinta,
secche le fonti del piacer, le pene
maggiori sempre, e non piú dato il bene.
Voi, collinette e piagge,
caduto lo splendor che all’occidente
inargentava della notte il velo,
orfane ancor gran tempo
non resterete, che dall’altra parte
tosto vedrete il cielo
imbiancar novamente, e sorger l’alba:
alla qual poscia seguitando il sole,
e folgorando intorno
con sue fiamme possenti,
di lucidi torrenti
inonderá con voi gli eterei campi.
Ma la vita immortal, poi che la bella
giovinezza sparí, non si colora
d’altra luce giammai, né d’altra aurora.
Vedova è insino al fine; ed alla notte
che l’altre etadi oscura,
segno poser gli dèi la sepoltura.