Super William
Moleque trigueiro
Sujeito matreiro
Que evita o fuá
De olhar penetrante
Andar ambulante
Buscando a menina
Do lado de lá
Moleque traquino
Do tipo franzino
Metido a galã
No caminho d’escola
Do corgo de bostas
Levava nas costas
Seus sonhos de lã
Ia de mãos dadas
Em largas passadas
Co’a Piquitita
Gentil jaçanã
Mas um dia
Sonhou general
No cavalo de pau
Viajou continentes
Acordou meio gente
Seu peito menino
Uma dor ensaiou
- não sou mais guri
- disse pra si
Pra mim foi aí
Que tudo começou
Tudo conhecia
Daquele lugar
Tirou o vira-mundo
E como vagabundo
Quis então viajar
Pra ver a menina
Do lado de lá
Abriu do peito a porteira
Do mundo a primeira
Foi mundo virar
Viu tudo mistério
Seu coração pediu sério
Não pôde evitar
E na sequência
Surgiu consequência
Não era mais um
Somou-se a outro
Agora eram três
No fim desse mês
Já não vai dar
Pra ver a menina
Do lado de lá
(Iuri, Iuri, Iuri)
Pra mim aí
Que tudo começou
Daquele lugar
Já tudo sabia
Quis então viajar
Abriu a porteira dos olhos
Do mundo, a segunda,
Foi pro lado de lá
Moço menino
Pintou e bordou
Nas areias de além
Meio jururu
Achou diferente
Sem achar indecente
As praias do nu
Na mala da vida
Levou vaidade
Sonhou igualdade
Voou pelo azul
Boêmio e banzeiro
Viajou trens ligeiros
Projetou feliz cidade
Como rei que já vi
Viu dinamarquesa
Da fina nobreza
Do ultramar
Pra mim foi aí
Que tudo começou
(Tílomi, Tílomi, Tílomi)
E como suspeito
Fez parte do rol
Como se fora exilado
Mandou um recado
(Claísa, Claísa, Claísa)
Pra terra do sol
Sondando o Brasil
Vivia da musa
No frio sem blusa
Mas com amor febril
Era assim que queria
Andava tão leve
Brincava na neve
Fazendo folia
Com a loura asceta
Que amou o poeta
Dando-lhe
Poesia
Daquele lugar
Já tudo sabia
Quis então viajar
Mineiro andarilho
Jogou o trem no trilho
E trouxe com ele ms. Tílomi
Pra mim foi aí
Que tudo começou
Não perdiam um instante
Era antes, depois e durante
Mas ela, depois de tudo vivido,
Como um livro já lido
Deixou ele pra lá
Levou todos os sóis
Essfriou os lençóis
Não soube voltar
Ele içou sua vela
E no mar dos dela
Andou a remar
Atrás da menina
Do lado de lá
Sozinho em alto mar
Já em águas tranquilas
No marco Brasília
Se pôs a pensar
Do mundo já tudo sabia
E quem quer viver
Não adia
Pois o homem não é
Como a flor que morre
Mas como o rio
Que corre
E retorna mar
Apagou suas mágoas
Trocou suas águas
Pra regar sua terra
Mexeu no seu peito
Traçou o seu leito
E num colo de serra
Vai recomeçar
Pois quem já andou
Mundos à beça
Sabe o rumo de seus passos
Confia mais nos seus braços
Do que num santuário de promessa
(Texto do Professor João Anderson Alves, amigo de muitas jornadas, quando decidi voltar pra viver em Pitangui, depois de uma rodada pelo mundo - Brasília, 28/07/1985)