Alexandre Gontijo – 50 anos

Hoje, dia 13 de maio de 2020, é o dia do quinquagésimo aniversário do nascimento de Alexandre Gontijo. Ele não estará aqui para a comemoração que seus amigos lhe preparam sempre por um motivo material de força maior. Um infarto há dois anos nos privou para sempre da sua companhia. O que não impede que sua lembrança esteja presente. É a marca indelével que ele deixou nas pessoas que o conheceram

O relato aqui é extremamente pessoal. Foi curto, assim considero, o período que eu convivi com Alexandre Gontijo. Eu o conheci por intermédio de amigos comuns. Quando nos encontrávamos nesses estabelecimentos típicos do Rio de Janeiro, em que tanto se joga conversa fora quanto se discute as coisas mais importantes da humanidade, Alexandre marcava de modo forte a sua presença.

Ele chegava sempre da mesma maneira. O corpanzil coberto por largas camisetas e bermudas, um elegante desgadelhado penteado e um saco plástico nas mãos, cujo conteúdo eu nunca consegui ver no detalhe. Só percebia tratar-se de livros e publicações que deveriam conter as fontes de conhecimento mais relevantes para aquele período da nossa civilização e um indefectível iPad, que ele não parava de consultar e remeter mensagens para, hoje tenho a certeza, a própria eternidade.

Era uma figura, Alexandre Gontijo. Uma pessoa cativante de poucas palavras, que passava bondade e amabilidade por aquela avantajada massa de delicadeza pessoal. Posso dizer que nos identificamos porque, eu também carente de prolixidade, compreendíamos como a faculdade de entender emocionalmente o outro pode se dar em um estado diferente da rasa palavra. Admirava-me a sua concisão em prontíssimas intervenções. Eu gostava do Alexandre Gontijo e eu sentia que a recíproca não era imaginária ou enganosa. Eu sentia isso, de verdade. Assim foi a nossa cordial relação por cerca de dois anos.

Por uma dessas situações da vida regida pela cognição sumária estava eu privado da liberdade e, portanto, sem nenhum contato com as pessoas da minha relação, quando me foi permitido sair por algumas horas para atender às cerimônias do passamento da minha mãe. Pois naquele momento tão importante e emocional, receptivo a sensórias impressões, depois de outros dois anos, recebo a visita de Alexandre Gontijo, numa manifestação de amizade e carinho nunca antes verbalizada com tanta eloquência quanto as mais simples atitudes. Este era Alexandre Gontijo, que se manifestava pelos seus mais cândidos movimentos, que se expressava sem a necessidade de usar o verbo, deixado às produções da sua profissão.

Passados alguns meses, eu ainda na minha temporária reclusão, remeti-lhe uma carta com o meu reconhecimento e agradecimento por aquele momento, algo que não esquecera e que não esquecerei jamais. Uma mensagem de reconhecimento por aquela manifestação de amizade sincera. A amizade que só quem a desfrutou de Alexandre Gontijo pode entender.

Foi com muita dor que recebi pouco tempo depois a notícia do seu passamento pelo infarto fulminante. Não posso nem me imaginar se eu não tivesse tido a oportunidade de ter manifestado a minha gratidão para com ele num momento tão importante quanto doloroso, apesar de fazer parte do inexorável percorrer da vida.

Este era Alexandre Gontijo, jornalista renomado e reconhecido, além de advogado, mas um cirurgião ao usar o seu bisturi analítico a mostrar para as pessoas o que era de fato importante numa existência tão fugaz quanto terrena, de fato importante no tempo em que tudo se dá ao mesmo tempo, aqui e agora. Não sei se consigo dizer alguma coisa que não tenho sido dita ainda. Mas é totalmente sincera.

Feliz aniversário, querido amigo Alexandre Gontijo.