IMAGINE MEU PAI COMO JONAS

Das três ou quatro vezes que meu pai inventou uma pescaria com seus três filhos, quando todos ainda eram crianças, esta sem dúvida foi a inesquecível.

Fomos no meio da semana para um igarapé de águas cristalinas que justificava seu nome “Água boa.” O igarapé tinha aproximadamente uns 10 metros de largura de uma margem a outra, aos fins de semana e feriados se transformava em um balneário muito frequentado por famílias, inclui-se a nossa, sempre mas que a lotação do fusca de meu pai, éramos sete.

Chegando lá, cada um com sua linha, vamos dividir a isca e vamos à pescaria. Depois de algumas horas, mudança de lugar, e, nada de peixe, a tarde já se ia e a noite se aproximava, e, nada de peixe. Foi quando resolvi propor aos meus irmãos que fossemos falar com o pai para que continuássemos pescando até a noitinha, quem sabe a pescaria não melhorasse. Todos concordaram e fomos falar com ele, que não sei se por termos ido todos juntos fazer o pedido, seu coração ficou mais sensível e ele concordou e nos disse que ficaríamos mais umas duas horas.

Não havia passado uma hora e ele começou a dar sinais de que já estava saturado, foi então que ouvimos ele gritar: - Venham até aqui! Rápido meninos! E saímos correndo até ele para ver o que tinha acontecido, ao chegarmos lá perguntamos o que tinha acontecido, ele nos disse:

- Eu quero que vocês recolham suas linhas que a gente já estamos indo embora.

E como quisesse nos conformar pela antecipação do fim da pescaria, e com um olhar distante, saiu com essa estória:

Meus filhos, vocês têm muita sorte de ainda terem pai, vou contar pra vocês o que acabou de acontecer, e continuou, resolvi fazer a última tentava e coloque uma isca grande no anzol, e joguei na parte funda, não demorou o peixe puxou e eu segurei até onde pude aguentar, até que desisti e soltei a linha, eu tenho certeza que se eu tivesse segurado aquela linha, aquele peixe teria me levado pra dentro d’água e me engolido.

Saímos então tristes e fomos buscar as linhas que ficaram pra trás quando seu Valdemar nos chamou. No caminho comentávamos: - O pai é fogo, quando o pai resolve uma coisa, nem adianta, e para quebrar a raiva um de nós comentou: - Eu fico imaginando o tamanho desse peixe que ele deixou escapar. E ou outro completou: - Quantas viagens naquele fusca, seria preciso para levar o peixe.

Antes de embarcarmos, meu irmão lembrou de pedir a linha com que o pai estava pescando, para guardar na sacola das tralhas. Ai sim que a gente viu presepada, ele falou bem sério:

- Escuta aqui, vocês estão pensando que o pai de vocês está mentindo, eu não falei pra vocês que eu tinha soltado a linha, vocês deveriam dar graças a Deus por ainda terem pai.

Passado algumas semanas, em um domingo ao chegarmos da igreja, como de costume, seu Valdemar nos chamou e nos perguntou o que padre havia falado e qual tinha sido a leitura, ele sempre fazia isso pra saber se realmente estávamos atentos a missa, foi então que meu irmão o do meio, o mais astuto saiu com essa:

- Pai a leitura de hoje na missa, foi sobre aquele peixe que o senhor deixou escapar lá no igarapé naquela noite.

- A gargalhada foi geral, nem mesmo ele aguentou, e começou a rir, a leitura se tratava de Jonas que foi engolido por um peixe. Quando entramos para o quarto para trocarmos de roupa meu irmão ainda falou:

- Se aquele peixe engolisse o pai, ia largar ele lá no Ceará.

Elton Portela
Enviado por Elton Portela em 28/01/2020
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