Dia da mulher
Essa história de feminismo, feminista, feminina... Esta me pondo em dúvida: onde me enquadro?
Se for buscar no dicionário (vulgo amansa burro), encontro tudo bem definido, mas é tanto diz-que-dize, que prefiro pensar eu, mulher, junto com as mulheres que me rodearam e me rodeiam, de onde tiro muitos exemplos de virtudes, força e beleza interior, já que a beleza estética é outra discussão.
Começo pela minha mãe, claro, pois foi quem me gerou. Maria perdeu a mãe com apenas nove anos, foi criada pela madrasta, casou cedo para se livrar do jugo, teve oito filhos, lavava roupas para ajudar no sustento da casa, ou seja, ralou pra caramba. Minha mãe foi uma guerreira, mas que tinha sempre o cuidado com a pele, com as unhas, cabelos... era vaidosa, mesmo na sua simplicidade. Uma das atitudes mais marcantes que trago na lembrança, era da minha mãe entregando, todos os meses, a caderneta com o dinheiro (suado, das roupas lavadas), para irmos pagar a prestação do terreno onde estava a nossa casa, pois meu pai não se preocupava em pagar, nem dando o dinheiro.
Minha irmã mais velha, Anadir, era o que posso definir como uma mulher a frente do seu tempo. Começou a trabalhar cedo, para ajudar em casa, mas a maior parte de sua vida trabalhou em caminhão de feira livre. Não tinha tempo bom ou ruim. Quatro horas da madrugada era seu horário de levantar, para pegar o primeiro ônibus e estar nos pontos de encontro para ajudar seus patrões a montar a barraca. Tudo isso continuou depois de casada, ajudando meu cunhado par-e-passo na constituição de sua família. Anadir, era cheia de estilo, talvez inspirada pelas revistas da moda, que fazia questão de colecionar. Nós, irmãs menores, adorávamos vestir suas saias rodadas e desfilar com seus sapatos de salto alto, sempre achando que ela não sabia de nada, claro! Uma das passagens que guardo na lembrança, é do dia em que meu pai e meus irmãos estavam cavando um poço e minha irmã passou vestindo um “slake” (calça comprida) e meu pai disse: “não posso ver isso, as mulheres vestindo roupa de homem” e todos caíram na risada. Não sabiam do conforto da nova moda!
Da minha irmã, Ana, tenho a recordação da dona de casa, que criou seus filhos, incluindo eu, com dedicação, apesar dos percalços da vida. Aquela, que tinha o coração por inteiro, que nos esperava sempre com uma brevidade, que fazia pipoca e Q-suco nas reuniões dançantes e nos espera com duas panelas de cangica, quando descíamos do morro no dia da colheita da macela. A Ana, foi minha mãe do coração e também foi a mulher que mostrou que é preciso ter força até o fim.
Com as lembranças dessas três mulheres que marcaram a minha vida, posso dizer que não tenho mais dúvidas, mulher é mulher, feminina, feminista e com livre arbítrio. Muito que temos e somos, devemos as que nos antecederam e tudo que somos e fizermos, deixaremos para aquelas que virão.
Julgar o feminismo (certo ou errado), é fácil, se colocar no lugar das que lutaram e se ver como lutadora, nem tanto.
Hoje ouvi os homens questionando porque só se fala em feminicidio e não se fala em hominicidio, pois este também existe. Ora, porque, infelizmente, a cultura machista ainda é grande. O homem tem a mulher como propriedade. É uma cultura humana que precisa acabar, mas quando...
O dia da mulher existe e deve ser festejado, portanto, parabéns a todas que fazem este mundo mais belo!
Viva 08 de março!