As Negras Retintas!

As Negras Retintas!

Tinha uns 6 anos e vinha com minha mãe do serviço umas 20:00 quando no pé do morro encontramos aquele Senhor Negro, 1,80 por aí, forte, uns 60/70 anos com um cesto fortissímo possivelmente com frutas que ele vendia para os apartamentos na beira do morro:

era o Senhor Tibúrcio!

Saí do RJ aos 6 anos e voltei aos 14 lá por 1965. Notei numa das entradas para nossa "vila" uma pessoa que não tinha visto antes. Era uma senhora negríssima de uns 60 anos, mas por estar sempre com a mesma roupa surrada eu chutava para uns 75!

Aquela visão era um doloroso exercício diário para aquele que vinha de um colégio de freiras, com enraizados ensinos sobre caridade, bondade, fraternidade!

Sua "casa" era de cair os cabelos, tinha 1 metro e meio de largura por 2 e meio de comprimento, sem luz e banheiro. Esquentava sua comida (provavelmente dado por sua vizinha D Piedade) numa lata de leite, num amontoado de pedras á guisa de fogão.

Deitava-se cedo, podíamos vê-la no quarto sem porta e nunca a ouvi falar nem mesmo gemer, lamentar seu infortúnio.

Era muito negra, muito alta, muito magra, muito Altiva, muito Humana!

Humana?

Desconhecia neste meu pequeno inicio de vida um ser humano livre vivendo daquela maneira. Pouco depois o destino me pregaria uma peça e eu iria viver com outros desabrigados em lojas de um shoping em construção, qual abelhas numa colméia!

Aquela impressionante e incógnita figura, quase assustadora, relembrava a autora do 1º livro de fofocas do morro:

O Quarto de Despejo!

Ao vê-la fazia um mea-culpa:

Ser Humano desprezando e se omitindo em amenizar o sofrimento alheio!

Pouco tempo depois ela sumiu e pude olhar sua "casa".

Como cama apenas um ajuntamento de paus cobertos de palha!

Estranho morava numa "vila" cujos negros eram altos, 1,70 para cima.

Outra negríssima, gigante, corpulenta, era minha vizinha D. Lourdes, cuja única companhia era seu cachorro chérry, e as visitas de um Portuga. D. Lourdes tinha o rosto extremamente duro, talvez pelas agruras da vida, e os famosos olhos "seca pimenteira"!

Só ouvia todos os dias, o dia todo, boleros e fados e assim virei fã de Altemar Dutra e Amália Rodrigues:

De quem eu gosto nem as paredes confesso!

Outra extremamente competente na lavagem de roupas, altiva e vivendo só, não se comunicava com ninguém e sob ameaça de despejo ficou doida do dia para a noite!

Todas pessoas muito dignas, educadas, trabalhadoras!

Esta introdução para algo que me passou desapercebido na época:

Poucas pessoas sambavam na Quadra de Samba, diferentes dos bailes Soul aonde a maioria dançavam. Depois veio o Break de difícil execução portanto não se popularizou.

Aí as manhãs Xuxantes emendaram com a Macarena que massificou mundialmente o estilo:

Todos Iguais feitos por 3 ou 4 grupos nos bailes Soul!

Ou seja o Samba de origem Africana perdeu para as danças alienígenas mesmo sendo criadas por negros americanos!