O EXAME DE FEZES

Colegas e amigos do RL, hoje se ele estivesse vivo, faria 111 anos. Deixou para muitos amigos um legado de alegria, pois gostava de contar “causos” e sempre era solicitado a contar seus causos em reuniões. Eram sempre os mesmos, mas eram muitos e eu trago como homenagem o caso verdadeiro que descrevo abaixo.

O EXAME DE FEZES

- O senhor precisa fazer um exame de fezes, disse o médico.

- Siga esta dieta por três dias, tome este laxativo no terceiro dia à noite e no quarto dia pela manhã o senhor traga todo o produto aqui no hospital e entrega no setor de coleta.

Meu pai seguiu corretamente a dieta, mas como o médico havia dito que era todo o produto, ele arrumou uma lata grande de Toddy (a maior embalagem da linha que existia na época). No quarto dia pela manhã, com o efeito do laxante, sentou na própria lata e lá depositou todo o produto. Encheu a lata, tampou, envolveu-a num saco de papel celofane, amarrou a boca com um barbante, embrulhou num jornal e foi para o Hospital das Clínicas. O trajeto de onde morávamos até o ponto final do ônibus da linha Rebouças/Consolação era de mais ou menos uns novecentos metros, ali onde hoje é a Praça Jorge de Lima, conhecido, ironicamente, na época por “larguinho da paz,” dada à violência que acontecia nas madrugadas de domingo. Ao correr para pegar o ônibus, deixou a lata cair, mas como estava bem amarrada e embrulhada, nem ligou, tomou o ônibus que lotou.

Ele estava em pé na metade do ônibus. Com a mão esquerda segurava no balaústre e com a mão direita, braço bem esticado, segurava a dita cuja. Na queda a tampa afrouxou e deixava escapar um vaporzinho que molhou o papel celofane e conseqüentemente aquele odor característico exalava. O dia era chuvoso e as janelas do ônibus estavam todas fechadas, mas logo começaram a ser abertas. O cheiro não saía. Alguns passageiros desceram reclamando. Outros subiam e logo pediam para abrir a porta traseira para descer. O ônibus estava esvaziando e não tinha percorrido nem metade do percurso até as Clínicas.

O velho se mancava como se nada estivesse acontecendo. Vagou um lugar, sentou-se.

- Então é o senhor que está todo cagado? Reclamou uma senhora.

Ele permaneceu calado. A mulher se levantou e desceu do ônibus. Agora todos sabiam quem era o responsável e ele resolveu se abrir:

- Agüentem mais um pouco que eu vou descer nas Clínicas. Eu não estou cagado, mas caguei nesta lata. O fedor vai acabar, não sujei nada.

Quem estava sentado ao lado da janela, meteu o nariz para fora. Quem não estava, procurava uma corrente de ar, outros se abanavam e o movimento de entrar e logo sair continuava. Quem já estava com a passagem paga insistia em agüentar. O fundo do ônibus, antes da catraca, ficara vazio. O velho desceu nas Clínicas e, ironicamente, disse: - Tchau pessoal!!!

Enquanto se dirigia para o hospital, sentia o cheiro. O jornal que embalava já estava rasgado, então desembrulhou a lata. Chegou à seção de coleta e ficou na fila. Começaram as reclamações.

- Se vocês me derem a vez, não vão mais sentir, disse ele.

Todos concordaram e ele colocou a lata em cima do balcão.

- Tudo isso? Perguntou a recepcionista.

- O doutor disse que era para trazer tudo, deve ter mais de um quilo!

JOÃO BRONZATO

SANTO BRONZATO
Enviado por SANTO BRONZATO em 18/01/2018
Código do texto: T6229770
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