Homenagem ao poeta Pio Vargas
Enquanto fujo, amiolado no tremor das páginas que escrevo,
canto em verso o mar que em todo desespero
espera a luz que a lua esquece de deixar.
E mesmo ao sol que se deixara inteiro,
coubesse às ruas deste desespero,
de luz pereceria ao meu faltar.
Se nesse ardor que existo em louco brado,
nos descampados cinzas do cerrado,
o vento fosse a me levar aos cantos,
de mim só ouviriam emplumados,
em finas lanças de rabiscos ralos,
os versos que descanso aos tais descasos.
E vão lembrar de mim aos esquecidos tempos,
como se ouvir do amor o cumprimento;
e eis que o rubor da rima enlaçaria aos ossos
abandonados nas mais lindas valas;
onde há espanto: escorre o sentimento!