Paladar especial
Uma última alusão ao compositor Belchiôr, pra que depois o deixemos descansar em paz.
Poderia ser do nosso interesse saber a causa do seu autoexílio ou reclusão. Será que foi medo do avião? Dos cachorros? Das paralelas? Do vento? Da poesia, claro que não.
Dizem que podem ter sido dificuldades financeiras. Dois carros abandonados num estacionamento. A vida em casas cedidas por amigos. Ou a necessidade de se afogar em livros? Talvez a esposa pudesse ter algo a acrescentar.
Ou será que a causa da reclusão teriam sido as pessoas? Com as suas engrenagens? Ou sacanagens?
Não podemos apostar, mas desconfiar, sim. Até porque, via de regra, só pessoas especiais costumam se decepcionar com pessoas. A ponto de recusar degusta-las. A maioria, em geral, se acostuma. Pela quase imposição do convívio social, financeiro, profissional, interesseiro. Talvez Belchiôr tivesse um paladar diferente.
Rio, 010517