Ao Papai.
Eu vejo.
Eu vejo como ele fica triste no dia do meu aniversário por eu ter nascido um dia depois do aniversário de morte da mãe dele.
Eu sinto.
Eu sinto que ele não está satisfeito por eu não estar em uma faculdade pública, fazendo um curso que eu não gosto, ou por eu estar desempregado.
Eu ouço.
Eu ouço quando, às vezes, ele está estressado, reclama com minha irmã que ela está muito folgada, que somos “uns bostas” e que demos “poucas alegrias e mais problemas”.
Mas o que eu posso fazer? Mesmo tendo todos esses motivos pra ter raiva, ou rancor, ou qualquer outro sentimento mais “baixo” por ele, eu o amo.
Por quê?
Porque eu vejo.
Eu vejo quando ele chega, e o sorriso que se estampa, tímido e sutil, no rosto dele quando ele vê que todos nós estamos em casa, dormindo ou acordados.
Porque eu ouço.
Eu ouço o “Deus te abençoe” que vem do fundo do coração quando lhe peço a benção e dou boa noite.
Porque eu sinto.
Eu sinto que mesmo quando eu durmo fora, ele me dá um beijo de boa-noite e (mesmo não precisando) se esforça pra gostar do que eu gosto e me agradar.
E principalmente porque eu lembro.
Eu lembro das “aventuras” que tínhamos quando eu era mais novo, das noites que ele passou em claro quando eu estava doente, de todas as coisas que ele me ensinou e não esqueci mais, dos segredos e das conversas sem sentido que tínhamos e, o mais importante e por incrível que pareça, de como ele ficou feliz quando cada um de nós nasceu...