O Voo do Norte
O que fazer quando se tem muitas dúvidas e nenhuma resposta?
Quando não há motivos nem pra se ter um motivo?
Quantos gritos de socorro serão abafados e ignorados até que se tome alguma atitude?
Tantas construções desconsertantes ao redor
Tornam tudo mais assustador.
E solitáro
Pois todos os ruídos, cores e dimensões não somam a capacidade de um toque amigo
Nunca mais vou esquecer daquele pássaro negro de face pálida como a núvem densa de incertezas que rondavam sua pequena morada pensante.
Primorosas penas longas lindamente entregues à selvageria do vento de mais de 60Km/h
Bailando de um lado ao outro, sem que se importasse com os golpes que chicoteavam seu rosto triste.
Sobre o que pensava sua morada, naqueles, acredito, quarenta, talvez cinquenta minutos de dor na escala máxima e mais decisiva antes do último voo?
Mas que tipo de dor deve ter sentido aquele animal de feridas abertas, assustado, quando no momento mais definitivo de sua vida, sua morte?
Esperava ele que ao ligar para seus estranhos amigos fosse sua alma então, liberta e convencida de que ainda há esperança?
Ora ou outra, olhar para o alvo
Lá embaixo, bem lá embaixo
Queria ter sido nesse instante
Uma mosca pousada discretamente em sua treva de penas.
Poderia eu na condição de tão pequenina mosca
Alcançar o avistado por ele, tão lá longe?
Tão lá embaixo?
Teria ele visto alguma resposta como se fora tesouro escondido de Atlântida?
Ou pensou ele, talvez, em dissolver a densa núven de desventuras, cuja qual não possuía mais forças pra carregar, nas ondas impetuosas capazes de erodir pedras grandiosas e brutas?
Um peixe dourado - que colorisse seus céus nublados nos tons amarelos de um dia quente de sol?
Um peixe palhaço - que fosse talvez a única criatura viva capaz de com ele empalheirar-se e então zombarião juntos das mesmas desgraças?
Uma passagem secreta?
Do mundo em que vivemos, para qualquer outro mundo que não este?
Do mundo de noites longas e frias, para o mundo de dias melhores?
Para um mundo com seres vivos, e não semi-vivos?
A verdade é que poderia divagar semanas sobre tantos motivos que convenceram o pássaro a sair do seu ninho de desconfortos e sumir entre as ondas. E sem supresas, muitos seriam-nos comuns.
Mas... não importa!
Não é?!
A quem importa?
Cada um com seu cada qual.
O voo é livre e gratuito, desde que a água não respingue em ninguém.
Em memória de Gene.
&lis*
10/03/14