Prepare o seu coração pras coisas
Que eu vou contar
Eu venho lá do sertão...
 
* O magnífico Geraldo Vandré tinha a canção perfeita. Ele percebia que “Disparada”, composta também por Theo de Barros, apresentava o perfil capaz de encantar no grande Festival organizado pela Record.
 
Quem seria o intérprete? A escolha era crucial.
Inicialmente o fantástico compositor não aprovou o nome sugerido. Um sambista executando uma música sertaneja, dona de uma mensagem tão primorosa, seria a opção correta?
 
Quando o iluminado intérprete terminou a apresentação, entretanto, Vandré festejou o quanto acertou. A canção, além de vencer o Festival, projetou o talentoso sambista que não era somente um sambista.
O genial artista “disparou” também cantando músicas sertanejas e brilhando nas estradas da MPB, sempre sorridente, alegre, levando a sua excelente energia para os quatro cantos do planeta.
 
Eis o incrível Jair Rodrigues, o intérprete perfeito da música Disparada no Festival da Record finalizado em outubro de 1966.
 
* Provando a magia desse momento, nos bastidores um episódio tornou gigante a ocasião e fez justiça ao insuperável Jair.
 
Disparada venceu a competição ao lado de A Banda, de Chico Buarque, que foi interpretada por Chico e Nara Leão.
Chico foi informado de que A Banda seria declarada a campeã, porém, guiado pela bondosa inspiração, nutrindo a intuição a qual apenas os poetas possuem, ele não aceitou a vitória individual.
O querido Buarque reconheceu que Disparada era melhor.
Decidiram, então, premiar as duas canções.
 
Esse acontecimento memorável hoje embala o meu texto, pois estamos chorando o adeus de Jair Rodrigues.
 
* A partir de Disparada, que ele interpretou com total maestria, o cantor não cessou mais de espalhar sua enorme luz artística.
 
Deixa agora a Terra Jair Rodrigues, mas ficou a saudade proporcional ao seu jeito descontraído e contagiante enquanto cá esteve.
 
* Vandré, o imbatível compositor, ficou.
Chico, o homem do ato forte e nobre, também ficou.
Disparada é uma canção vitoriosa e imortal. Ela ficou.
 
E a poesia? Ela ficou ou faz uma pausa?
 
Ela sempre continua!
Um dia tornou o samba mais colorido.
Seguiu dando brilho à música sertaneja.
Abraçando Jair qualquer estilo, ela nunca o abandonou.
 
Escolheu ficar...
No samba que anima bastante
Faz dançar tanto, contente e ágil
O coração bamba lastima esse instante
Começa a pensar, o quanto a gente é frágil
 
Escolheu ficar...
No sertanejo permitindo ferver a pista.
Expressando qualidade
No desejo insistindo em rever o sambista
Conversando na eternidade.
 
A poesia escolheu ficar...
Nas recordações destacando um passo bonito
Jair soube a caminhada linda demais ressaltar
Nossos corações provando seu abraço no infinito
Quero Disparada ainda, uma vez mais escutar
 
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Ilmar
Enviado por Ilmar em 09/05/2014
Reeditado em 11/05/2014
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