UMA VOZ (homenagem a Padre Vitor)
UMA VOZ
Tantas coisas marcaram as minhas lembranças,
Que o tempo nunca irá apagar.
Recordações do tempo vivido em criança,
De uma delas agora eu quero falar,
É de alguém que não está mais entre nós,
De quem pude apenas, ouvir sua voz,
Que em meu pensamento, continua a soar.
As doze em ponto, de todos os dias,
O Santo Ângelus, linda oração,
Naquela voz serena e suave eu ouvia,
Como confortava o meu coração,
A voz que expressava na serenidade,
Tal sabedoria, amor e bondade,
E à Mãe Santíssima, total devoção.
E as ondas da rádio Aparecida,
Quando às seis da tarde, findando-se o dia,
Aquela voz serena e tão conhecida,
Na sagrada hora da Ave-Maria,
Naquele momento de tão bela hora,
Ao Mestre Divino e à Nossa Senhora,
À voz do rádio, a nossa se unia.
E assim todos os dias, no radio eu ouvia,
Aquela voz serena, que a paz expressava,
Quando à Mãe Santíssima, sua voz dirigia,
La no céu, a Mãe Santa, o escutava,
Padre Vitor Coelho, homem santo,
Mesmo sem conhecê-lo, o admirei tanto,
O coração de quem o ouvia, sua voz tocava.
segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011
PADRE VICTOR - BIOGRAFIA DE UM HOMEM SANTO
Padre Victor nasceu em Campanha - MG, no dia 12 de abril de 1827 e foi batizado aos 20 de abril do mesmo ano, pelo Pe. Antônio Manoel Teixeira. Era filho da escrava Lourença Maria de Jesus. Sua madrinha de batismo foi a senhora Marianna Bárbara Ferreira.
Dom Antônio Ferreira Viçoso, bispo de Mariana - MG, visitou Campanha - MG no ano de 1848. O alfaiate Victor procurou Dom Viçoso nesta ocasião, manifestando-lhe o desejo de ser padre. O Bispo o recebeu com grande alegria. Dirigiu-se da cidade de Campanha - MG ao Seminário de Mariana - MG, tendo sido aceito em 05 de junho de 1849. O bispo Dom Viçoso o apoiava e estimava, chegando a proclamar as virtudes deste jovem. Ordenado em 14 de junho de 1851, permaneceu em Campanha - MG, como coadjutor, de 17 de agosto de 1851 até 13 de junho de 1852, vindo para Três Pontas - MG em 14 de junho do mesmo ano, como Vigário Encomendado. Logo que assumiu seus trabalhos na paróquia, visitava doentes, amparava os inválidos, zelava pela infância desvalida, atendia a população em suas necessidades. A sua dedicação, as suas virtudes o fizeram admirado por todos, pois assumiu a direção da paróquia com zelo e carinho, desta maneira colocando-se acima de todas as críticas. Procurou catequizar e instruir o seu povo, chegando a criar a escola “Sagrada Família”, com uma organização perfeita. Por ele passaram brasileiros de grande projeção social: Dom João de Almeida Ferrão, primeiro bispo de Campanha - MG; o Cônego José Maria Rabello, que foi o coadjutor de Padre Victor. Padre Victor fez de muitos filhos de famílias humildes homens de cultura que passaram a viver da inteligência, nas mais variadas profissões.
Padre Victor pregou, pelo exemplo, a fé, a esperança, a fortaleza, a prudência, a justiça, a obediência, a castidade, a temperança, a humildade, o temor a Deus e, sobretudo, a caridade. Amava a Deus na pessoa do seu semelhante, de modo especial nos mais pobres. Os paroquianos, em suas necessidades recorriam a ele. Era bom, porém enérgico. “Padre Victor vivia de esmolas e dava esmolas”.
Paroquiou Três Pontas - MG, por cinqüenta e três (53) anos. Faleceu no dia 23 de setembro de 1905. A notícia abalou a cidade e toda a região que já o venerava. A população chorou a morte de seu líder, de seu protetor, do mensageiro entre Deus e os homens. Ficou insepulto três dias e de seu corpo exalava perfume. Em vista do grande número de pessoas que compareceram ao sepultamento, foi necessário fazer uma procissão pelas ruas da cidade, voltando novamente à Matriz, por ele construída e onde foi enterrado.
Padre Francisco de Paula Victor é considerado pelos trespontanos como o seu “Anjo Tutelar”.
PADRE VICTOR E A SUA VOCAÇÃO
Padre Francisco de Paula Victor nasceu em Campanha - MG, em 12 de abril de 1827, em uma senzala (morada dos negros naquela época). Filho de Lourença Maria de Jesus, não se tem conhecimento de seu pai. É de origem humilde e humilhante, porque é filho de escrava. Nasceu numa época em que as Leis do Trono Português ajudaram e obrigaram a tratar os negros como COISA e sem DIREITO algum. Ele não teve registro civil, o que era impossível na época. O que prova o seu nascimento é o seu BATISTÉRIO. Aquela criança negra e pobre foi batizada em 20 de abril de 1827 e teve o amparo e o carinho de sua madrinha de batismo Dona Marianna Bárbara Ferreira, pessoa de grande importância na sua formação cristã. Francisco foi um menino forte, de lábios volumosos e nariz chato. Não tinha beleza e nem formosura. Mas, era inteligente, vivo, esperto e bom. Com essas qualidades e por privilégio de Deus ele estudou. Não se sabe se em casa com a madrinha ou com algum professor numa escola. O fato é que ele estudou, pois negro, filho de escrava, devia, quando forte como ele, trabalhar em serviços pesados na lavoura, no garimpo ou engenho. Outros eram encaminhados para trabalhos especializados como marceneiro, alfaiate ou pedreiro. Não era comum negro estudar. Era proibido por lei. Exerceu a profissão de alfaiate e teve por mestre o senhor Inácio Barbudo, a quem confidenciou o desejo de ser Padre e de quem recebeu uma crítica nestes termos: “Já se viu negro ser padre?” Com o apoio de sua madrinha de batismo, chegando a dar-lhe a metade de uma fazenda denominada “Conquista”, em Campanha, como patrimônio que era exigido na época e com a permissão de Dom Viçoso, bispo de Mariana, entrou no Seminário de Mariana - MG. Foi um homem marcado pela santidade, pois, em plena escravidão no Brasil, em que o negro não tinha nem vez e nem voz, conseguiu cursar o seminário provando que, para o Criador, não existe diferença de raça ou de condição social.
PADRE VICTOR E A SUA VIVÊNCIA CRISTÃ
No Seminário demonstrou sua vivência cristã. Passou por muitas humilhações, pois seus colegas "brancos" se recusavam a aceitá-lo. Chamavam-no de negro, beiçudo, deixando-o para os piores trabalhos. Victor aceitava tudo e procurava fazer bem as tarefas, servindo a todos. Aos poucos, reconheceram que se tratava de um seminarista exemplar e passaram a respeitá-lo. O bispo Dom Viçoso o apoiava e o estimava, chegando a proclamar as virtudes desse jovem, reconhecendo a sua vivência cristã, pois sabia compreender, perdoar e amar aqueles que o ofendiam.
PADRE VICTOR E A SUA EXPERIÊNCIA DE DEUS
Com 24 anos, em 1851, ordenou-se sacerdote, sendo sua primeira missa celebrada em Campanha – MG. Em 1852, veio para Três Pontas - MG. A população achou estranho Dom Viçoso enviar um sacerdote "negro". Era em plena escravidão negra, mas a população de Três Pontas, aos poucos, foi conhecendo as virtudes de Padre Victor, que pregava pelo exemplo. Não existem leis para as virtudes, mas, sim, o poder do Espírito Santo, para transformar o seu semelhante. Assim, consolou os aflitos, foi justo, soube perdoar, soube promover os semelhantes, sem distinção. Visitava os doentes, amparava os inválidos, atendia prontamente confissões, casamentos, encomendações. A população significava muito para ele, que, realmente, era um homem de Deus. Transmitia esperança na felicidade eterna, conquistada com o sacrifício de Cristo e agradecia a Deus por lhe haver revelado Jesus. i
PADRE VICTOR E A SUA FÉ FRENTE AOS DESAFIOS DE SEU TEMPO
Padre Victor, o homem da fé, venceu os obstáculos do seu tempo. Em lugares mais distantes ia a cavalo e, quando mais idoso, usava o carro de bois. Seus paroquianos recorriam a ele em suas necessidades. Sentiam na sua presença o alento, a segurança. Recorriam a ele os que tinham fome, desentendimentos familiares, doenças, falta de habitação, vestuário, trabalho. Crianças, adolescentes, jovens e adultos recebiam dele carinho e atenção. A justiça e a fé eram virtudes pregadas pelo Servo de Deus aos seus paroquianos com firmeza e coragem. E, assim, conquistou todo o rebanho para o Criador. Era bom, mas era enérgico.
PADRE VICTOR E A SUA FIDELIDADE AO MAGISTÉRIO DA IGREJA
Padre Victor foi fiel aos ensinamentos da Igreja.
Jamais deixou seus paroquianos sem a celebração da Eucaristia. A sua casa era de todos, principalmente dos mais necessitados. Para melhor instruir e catequizar o povo, criou em Três Pontas o colégio "Sagrada Família", com uma organização perfeita, atendendo não só a cidade, mas toda a região. Era presença marcante em todas as comemorações escolares. Procurava transmitir aos seus alunos o respeito, não só às leis da Igreja, mas também o seu dever de cidadãos. Era excelente professor de latim e francês.
PADRE VICTOR, UM SACERDOTE ZELOSO
Padre Victor tinha grande zelo por Nossa Senhora e devoção a ela. Era esmerado no trato das coisas sagradas.
O gosto e o respeito religioso com que realizava os atos litúrgicos eram notados por todos. As solenidades religiosas eram belíssimas. Dizem que ele convidava exímios oradores. Encerrava sempre as cerimônias com a bênção do Santíssimo. Padre Victor pregou, pelo exemplo, a fé, a esperança, a fortaleza, a prudência, a justiça, a castidade, a temperança, a humildade, o temor a Deus e, sobretudo, a caridade. Amava a Deus na pessoa de seu semelhante, de modo especial, dos mais pobres.
PADRE VICTOR, UM HOME DE ORAÇÃO E DE SERVIÇO
Padre Victor foi um sacerdote da oração e do serviço. Pregava a união e a fraternidade. Viveu de esmolas e dando esmolas. Para ajudar o seu povo chegou a contrair dívidas, mas foram todas pagas. Entregou o prédio onde funcionava a escola para pagá-las. Mas o seu credor devolveu-o, para que lá vivesse, enquanto vida tivesse, fazendo assim a doação, que futuramente seria o hospital das misericórdias, certamente com a finalidade de continuar a caridade pregada por Padre Victor. O pároco emprestava a sua escola para as festas, em que a população se divertia dentro da mais completa ordem, porque o sacerdote estava presente em todos os momentos, quer alegres, quer tristes.
PADRE VICTOR, UM SANTO HOMEM
Toda a sua vida foi simples e pura ... Algo do céu. Como sacerdote, ele glorificou a religião. Como cidadão, primou-se pelo cumprimento do dever. E, como mestre, dedicou-se à arte de educar várias gerações. Sua vida não lhe pertencia, era da pobreza; a sua casa era de todos e os seus bens, de quem deles carecesse. Padre Victor tinha fama de santidade, mesmo em vida. Seus atos e atitudes eram de alguém que, com os pés na terra, cantava as maravilhas do Senhor. Paroquiou Três Pontas por cinqüenta e três anos. Faleceu em 23 de setembro de 1905. A notícia de seu falecimento abalou toda a cidade e a região. Ficou insepulto por três dias e, de seu corpo, exalava perfume. Em 1929, a população ergueu na Praça, que tem o seu nome, uma "Herma" contendo os seguintes dizeres: "Sua vida foi um evangelho, sua memória a sagração eterna de um exemplo vivo. Homenagem ao valor e à virtude".
PADRE VICTOR E A SUA PARÓQUIA, ONTEM E HOJE
Homem de Deus a serviço do povo e Homem do povo a serviço de Deus.
Padre Victor zelou pela sua Paróquia ontem e hoje. .
O heroísmo do Servo de Deus Padre Victor foi a luz que iluminou a Paróquia da sua época e deixou um rastro iluminando a de hoje.
Padre Victor marcou a história de sua época e deixou grandes exemplos para a nossa Igreja.
Em sua Paróquia foi o sacerdote da comunhão, da solidariedade e da partilha.
PADRE VICTOR E O SEU PROCESSO DE BEATIFICAÇÃO.
As graças e milagres que a população dizia receber pela intercessão de Padre Victor eram inúmeros e seu nome passou a ser intensamente usado para nomes de pessoas, estabelecimentos comerciais, ruas, bairros, associações. Durante todo o ano milhares de romeiros se dirigem a Três Pontas, de modo especial no dia 23 de setembro (aniversário de sua morte), para agradecer os favores recebidos. Tais procedimentos fizeram com que o então Vigário Geral da Diocese de Campanha - MG, Monsenhor João Rabello de Mesquita, em 1962, iniciasse um estudo sobre a sua vida, com a ajuda do recém-criado Carmelo São José de Três Pontas, cuja priora era a irmã Tereza Margarida do Coração de Maria. Com o falecimento de Monsenhor Mesquita, outros procuraram concluir o estudo. Dom José da Costa Campos, trespontano, bispo Emérito de Divinópolis - MG, muito divulgou a vida de Padre Victor. Disse que ele educou pelo exemplo, pois viveu as virtudes cristãs com as quais ele conquistou seu povo. A sua memória continua viva em Três Pontas, em toda região e em todo país
Sentindo que os devotos aumentavam as visitas a Três Pontas para agradecer os favores recebidos por sua intercessão, o então pároco, Padre Antônio Gonçalves Neves, em 1989, pediu ao senhor bispo daquela época, Dom Aloysio Roque de Oppermann, que nomeasse Monsenhor José do Patrocínio Lefort postulador para a Causa de Beatificação e Canonização de Padre Victor. Em 1993, instalou-se o Tribunal em Campanha, para o conhecimento da vida, virtudes e fatos miraculosos atribuídos ao Padre Victor. Em Três Pontas, o Tribunal foi instalado no Carmelo São José e interrogou muitas pessoas. Dom Aloysio determinou que se criasse uma Associação, que, dentre outras finalidades, cuidasse de coletar e divulgar fatos da vida do Servo de Deus. Em 1996, a Associação foi criada. Em 1998, Irmã Célia B. Cadorin (da Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição) continuou os trabalhos no processo de beatificação, juntamente com a Associação Padre Victor. Atualmente, o postulador é o Frei Paolo Lombardo e a Irmã Célia é a vice-postuladora. Em 24 de maio de 1998, inaugurou-se o Memorial Padre Victor, na Rua Azarias de Brito Sobrinho, 61, em Três Pontas - MG. Em 12 de junho de 1998, foi feita a exumação, com a presença do postulador, vice-postuladora, Dom Diamantino Prata de Carvalho, bispo de Campanha, sacerdotes, Associação, autoridades e fiéis. Seus restos mortais foram levados ao Carmelo São José para estudos dos peritos médicos. Em 28 de junho de 1998 foi a trasladação dos restos mortais do Servo de Deus do Carmelo São José para a Igreja Matriz de Três Pontas. No mês de maio deste ano, Frei Paolo Lombardo e Irmã Célia B. Cadorin entregaram ao Bispo da Diocese de Campanha, Dom Diamantino Prata de Carvalho,um livro contendo o "Sumarium" e a Biografia Documentada, que foram aprovados pelo Relator Padre José Luis Gutierrez. Deixaram também com a Associação um exemplar do referido livro. Foi mais uma etapa vencida. Em 2002 a “Positio” foi examinado pela Comissão dos Historiadores da Congregação da Causa dos Santos e aprovada. Que os sucessores de Padre Victor em Três Pontas sigam o exemplo de nosso Anjo Tutelar para a glória de Deus e a santificação das almas.
Fonte: MEMORIAL PADRE VICTOR - Fone: +55 35 3265