Ode à Água - Pelo Dia Internacional da Água - 22 de março

Ode à água - Pelo Dia Internacional da Água - 22 de março

Cansada da areia noturna,

dormindo em mádida frescura de espumas,

o pescador me bebe, água aprisionando as algas,

cujo repouso buscam nestes braços

inquietos rumando ao destino vida,

marcham, cantando e refletindo palmeiras pintadas de lua!

Mutações me fizeram mel do romance,

sal da terra, borbulhas marinhas,

rebento das núvens grávidas,

maleável contudo, peregrina sem paradeiro,

já levantei e derrubei montros na crista

e amoldei pedras roliças intransigentes

e ainda e sempre inventarei aprazíveis igarapés,

cumprindo a missão divina que é

criar os peixes que enchem olhos e mesas!

Tantas velas me singram a diafaneidade

quanto peixes douram minha prata,

tantas lendas fiz nascer, de cuja verdade ou ilusão

aproximei esquinas longínquas,

lavando de amor a natureza desde

os aborígenes que me reverenciavam

até os pseudo progressistas que me extinguem

gota a gota, auto-extinguindo-se em vida!

Das rãs que coaxam, dos arvoredos

que sobre mim se curvam

levo emoções ao coração da Terra,

que oscilam com as ondas verdeazuis,

outrossim não pretendo ser apenas a memória

de uma vida de nascimento,

de rumores de rostos-ramos,

de uma multidão de recordações chorosas e contritas!

Quero ser o palácio dos deuses e dos sonhos,

a fonte da sobrevivência e do prazer,

a orquestra de luzes e cores reverberantes,

quero-me templo e cratera de vulcões,

quero pentear os cabelos das luas e sereias,

quero palavras debruçadas às minhas margens

semeando esperança e colhendo pérolas divinas,

e além disso, como água etérea que sou,

quero-me um chafariz de paz e amor,

onde anjos e demônios possam ter uma conversa paralela,

conciliando a lógica e emoção!

Santos-SP-Brasil-22.03.2007

Inês Marucci
Enviado por Inês Marucci em 22/03/2007
Código do texto: T422578