AMIGOS (Homenagem a Raimundo Antonio de Souza Lopes)
Já disse, repetidas vezes, que Deus tem sido muito generoso comigo, por tudo que me tem dado ao longo destes 88 anos que me permitiu viver e, espero, que ainda mais alguns de sobrevida, desfrutando a companhia da numerosa família que me concedeu.
Hoje, nesta tarde silenciosa, de uma sexta-feira, dia feriado, dedicado à Padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida, primeiro dia de um “feriadão” que a maioria das famílias aproveita para curtir uma praia ou passear noutras cidades, eu, devido às minhas limitações, tive que ficar em casa, que é sempre o melhor lugar do mundo, o nosso abrigo. Então, coloquei no aparelho de som um CD com minhas músicas favoritas e, não sei porque, minhas lembranças se voltaram para os meus amigos. É verdade que não foram muitos, devido ao meu temperamento, mas o suficiente para o meu prazer espiritual. Até, em 2004, publiquei um livro intitulado “Memorial de Amigos”, no qual tracei o perfil de, coincidentemente, 100, dos quais, na época, infelizmente já mais da metade, 56 haviam se mudado para outro mundo, deixando-nos a lembrança e a saudade. E dos 44 sobreviventes, decorridos apenas 8 anos, Deus já chamou outros 26, e os demais já não podem mais sair de casa. Imaginem vocês, que porventura me dão a honra de ler esta modesta crônica, a falta que sinto. Daí porque afirmei, no início, quanto Deus tem sido generoso comigo, dando-me, além de tudo, onze filhos, dezessete netos, genros e noras, que, de certa forma, preenchem a minha solidão. Disse “de certa forma” porque, conquanto excelente a companhia de um filho, é diferente da de uma pessoa amiga, sincera, com quem nos identificamos e temos a liberdade de troca de confidências que nem sempre podemos ter com um filho.
No livro “Memorial de Amigos” arrolo desde aqueles que vêm do tempo da infância, aos adquiridos na maturidade. Figuram aquelas pessoas simples, pobres, às quais queria muito bem, até algumas figuras de projeção no mundo social, econômico e político, Senadores, Governadores de Estado, Prefeitos e outros, porém homens sem empáfia, que sempre me demonstraram seu apreço. Confesso, no entanto, que me sentia mais à vontade com as pessoas simples.
Perdidos, hoje, tantos amigos, o bom Deus encontrou uma forma de preencher essa grande falta. Ajudou-me e meu deu inspiração para, nas horas vagas e nostálgicas, garatujar algumas crônicas e juntá-las num livro que nem pretendia publicar, mas fui incentivado por dois excelentes amigos. Esse livro teve o destino de chegar às mãos de um jovem inteligente e hábil fazedor de amigos, que, com magnanimidade, escreveu um artigo num jornal de Mossoró, comentando-o com uma sincera benevolência. E como esse jovem é um autêntico mestre (pedagogo e professor) e, pela sua sabedoria, simplicidade e simpatia, desfruta de amplo prestígio, tendo conquistado, em virtude desses dons, numerosos amigos, fez chegar ao seu conhecimento – certamente inspirado por Deus – os poucos méritos desse despretensioso livro. Além do mais, consequentemente, começaram a chegar, via internet, ao meu poder, surpreendentemente, várias mensagens de felicitações pelo conteúdo do meu livro, de pessoas que se tornaram minhas amigas virtuais, algumas das quais já me proporcionaram a honra de – deslocando-se das cidades onde moram – vir visitar-me, em companhia desse amigo que ainda não conhecia pessoalmente. E, para minha grande alegria, outras visitas se sucederam, preenchendo, assim, a lacuna que se fizera em minha vida com a perda dos amigos a que me referi.
E o melhor é que estas novas amigas me trouxeram outras, enriquecendo o meu círculo de amizades.