Saudade é o passado presente
Hoje, abri os olhos e já me bateu a saudade! Sempre penso que - saudade é o passado presente - pois o meu passado hoje está mais presente do que nunca! Lembrei de tudo como se estivesse a acontecer agora, ali. Cheguei a sentir o toque sutil da felicidade, revivi momentos e atos de uma pessoa amada. Parecia ver o sorriso e ouvir a voz a me dizer: não te preocupes eu estarei sempre onde tu estiveres. Eu te protegerei de todas as armadilhas e trapalhadas que por ventura venhas a entrar... Tão longe vai esse tempo! Me pego zangada pela promessa não poder mais ser cumprida... Ou será que pode? não sei. Volto as lembranças de uns olhos azuis infinitos que me sorria quando me olhava e que queria sempre a minha atenção.
Se falava, e eu não estava a olhar, sentia sempre aquela mão no meu rosto a exigir que eu prestasse a atenção. Chego a sentir seus braços sempre em meus ombros a me proteger de um esbarrão no meio da rua, de um meio fio, que eu estabanada como sempre, estava a tropeçar, de uma travessia em uma rodovia ou me colocando do lado de dentro da calçada, para me proteger com seu corpo se algo acontecesse. Vejo a sua gentileza segurando a porta para que eu pudesse entrar em um automóvel ou sua mão estendida a me esperar quando descesse do carro. Sinto a sua alegria ao me presentear com algo bonito ou simplesmente porque parecia comigo ou porque eu achei lindo e queria. Parece-me estar sentada em frente ao mar, conversando sobre coisas do cotidiano ou sobre família, amigos, ou simplesmente em como era bela nossa vida, nossa união, como o mar nos trazia sintonia. O vejo sempre com a mão levantada e o sorriso aberto a cumprimentar qualquer pessoa amigo ou como ele dizia, futuro amigo, não importava, sexo, idade, cor, condição social, ele não escolhia os amigos e o engraçado é que sempre era acolhido como amigo. Lembro de noitadas sem fim com os amigos ou de simplesmente nós dois em um bar qualquer a conversar até que resolvêssemos partir para nossa casa. O vejo achar graça nas coisas que não conhecia. Me lembro dele me ensinado um dos idiomas que sabia... Inglês ainda arranhava... ele ria de minha pronuncia e dizia: não é assim. O caboclo... nunca nem repeti, porque eu realmente não sabia, embora para ele fosse fácil... Misturávamos nosso português e riamos do que saia da mistura.
Lembro da última festa... Aniversário de casamento, com todos os amigos e foram muitos. Lembro dele e de suas palavras "isto é para mostrar o quanto gosto dessa preta e como estou feliz"
São tantas as lembranças... Lembro de suas últimas palavras - Preta olha nossa menina (minha irmã em sua formatura de segundo grau) - Está linda! E eu muito feliz por que tenho você.
Esta é a pessoa de quem tenho saudade... E de quem queria compartilhar um pouco do que é ser um marido. Não... um amigo, parceiro, companheiro... um tudo e este é o porque de minha saudade não ser triste. Sentida mais nunca triste. Obrigada Hélio pelo que me deste e obrigada amor pelo amor que me deste. (O porque da saudade - hoje faz 16 anos que fui pedida em casamento e que bom que aceitei!).