Dona Carmélia, doce mãezinha
Dona Carmélia, doce mãezinha
“índia seus cabelos nos ombros caídos, negros como a noite que não tem luar..” era sempre com uma canção inusitada e com o riso fácil e sorriso contagiante que encontrávamos dona Carmélia, em sua casinha na rua Professor Alfredo, ao lado do SAMU, onde viveu por mais de 50 anos, sempre com seu humor e sua fé inabaláveis... criou seus seis filhos no caminho do bem, e sua única vaidade eram seus cabelos, “que não davam uma volta”, como ela se orgulhava de dizer... de ascendência indígena, não era de se espantar que aos 77 anos seus lindos cabelos ainda conservassem o vigor e o brilho da juventude... através de suas palavras, atitudes e ensinamentos, criou uma família que hoje se orgulha de ter convivido por esses (poucos) anos com uma criatura cuja vivacidade e inteligência raras soube conduzir os caminhos de filhos, netos, noras e genros, um ser cujo exemplo de vida servirá para moldar o futuro das gerações que hão de vir... professores do ensino fundamental, médio e universitários, escritores, médicos, engenheiros, funcionários dos correios, todos passaram por suas orientações para o caminho do estudo e da perseverança, do conhecimento e do trabalho justo e honesto...
Minha doce mãezinha nunca desistiu.. apesar dos problemas de saúde que advém naturalmente com a idade, diabetes, reumatismo, estômago e pressão alta não a abalaram, conservou a fé e a coragem até o final... mas até a mais forte árvore um dia fenece ao apelo inabalável do tempo... Deus a levou para seu convívio eterno e a única esperança que nos resta é a lembrança de que um dia estaremos todos juntos, nós da família Gomes Silveira, criados para o bem e para a alegria... sua janelinha hoje está vazia, onde costumava ficar, vendo o movimento e procurando amizade, novidades e conhecimento com os passantes, sempre perguntando sobre a saúde de todos os amigos e conhecidos que por ali passavam, e como minha irmã Carmen dizia: “passou por aqui eu registro”... como mãe costumava cantar, com sua voz linda, orgulhosa por seu nome figurar como um personagem de uma conhecida música popular: “foi a Carmélia que caiu do galho, deu dois suspiros e não morreu..” essa é a melhor lembrança que teremos dela... podes ter caído diante das adversidades que a vida se lhe impôs minha mãe, mas sua lembrança, presença constante em nossas vidas, bom humor, alegria, otimismo, espírito guerreiro e fé em Deus estará sempre viva em nossas vidas, minha doce mãezinha.
Adilton Gomes Silveira
05 de maio de 2012
07:10 AM