Luiza
A Luiza foi minha melhor amiga até os dez anos, quando eu deixei de ter melhor amiga. Eu dizia “Fulana, você é minha melhor amiga da escola”, “Cicrana, você é minha melhor amiga do condomínio”, mas já não tinha mais uma melhor amiga unânime. Eu tive amigas importantes e que eu não vou esquecer, mas nunca mais tive aquela segurança infantil para dizer “ Você é a minha melhor amiga”.
Ela faz parte das minhas melhores lembranças infantis. Nós acreditávamos nos contos de fadas e queríamos ser como as princesas, tanto que uma vez combinamos de por ervilhas, uma sob a cama da outra, mas sem avisar primeiro, apenas teríamos que perguntar como havia sido a noite uma da outra. Na vez que botei a ervilha na cama dela, ela me fez grandes queixas sobre a noite, então na vez em que ela me perguntou como eu tinha dormido, eu desconfiada, com medo que ela se decepcionasse com a minha falta de nobreza, disse que tinha sido uma péssima noite. Na verdade eu tinha dormido muito bem, mas eu achava aquela minha amiga tão incrível que eu tinha até certo medo que não atendendo a suas expectativas ela deixasse de me admirar e ser minha amiga.
Nós dançávamos como aquelas antigas bailarinas do Fantástico, nuas e pintadas sobre os banquinhos da sala. Nós andávamos sobre as pedras no mar e nos sentíamos grandes piratas, as pedras eram os nossos barcos e marola se transformava em ondas gigantes dessas grandes tempestades e salvávamos a vida uma da outra. Era tudo assim, uma grande fantasia, mas a fantasia acabou... Só que ela não perdeu o posto de minha “única melhor amiga unânime”.