ANTÔNIO TORRES: Do Junco para o Mundo

Antônio Torres não é apenas um magnífico romancista com talento e sensibilidade para criar, com amor e aptidão técnica, obras de arte literária, inscritas na história da literatura brasileira dos séculos XX e XXI. Escritor com surpreendentes faculdades inventivas, alcançou a universalidade tão almejada pelos criadores de arte porque se irmanou, profundamente, com a índole da gente de sua terra e aprendeu, em todos os seus aspectos, as incitantes características da geografia humana do povo da Bahia e do Brasil.

O primeiro livro que li – ainda menino – de Antônio Torres, foi Carta ao Bispo. Fiquei fascinado e orgulhoso ao mesmo tempo. Fascinado pela maneira como ele escreve, tão acessível, tão cativante, tão envolvente... E orgulhoso em saber tratar-se de um conterrâneo, de um parente, e que viria, anos depois, tornar-se um dos meus melhores amigos.

Eu admiro muito a saga de nordestino que ele cumpriu, saindo do Junco e indo fixar-se no Rio de Janeiro. A sua trajetória não foi fácil, pois cortar as raízes pode não ser tão simples assim.

Antônio Torres é autor de uma dúzia de livros de sucesso, mas apenas dois deles já seriam o suficiente para colocá-lo entre os melhores escritores brasileiros de todos os tempos. São eles: Um Cão Uivando para a Lua e Essa Terra.

Os seus livros são publicados em vários países, são leitura obrigatória em universidades, são premiados, figuram na lista dos mais vendidos e servem de embasamento para teses acadêmicas. O saudoso Jorge Amado condensou a obra dele em uma frase curta: “O que digo mais? são livros porretas”.

Agora eu quero, como tão sabiamente disse Paulo de Tarso, o São Paulo, “combater o bom combate”, e para tal peço licença para transcrever um trecho breve do romance Essa Terra:

“O Junco: ... A barra do dia mais bonita do mundo e o pôr-do-sol mais longo do mundo. O cheiro de alecrim... Sons de martelo amolando as enxadas, aboio nas estradas, homens cavando o leite da terra... As rosas vermelhas e brancas da minha avó. As rosas do meu bem-querer: - Hei de te amar até morrer. Esta é a terra que me pariu...”.

E há ainda outro que eu considero absurdamente forte e que está nesse mesmo livro, e que diz:

“O velho bateu a cancela e não pode evitar o baque, o último baque: aquele estremecimento que fez suas pernas bambearem como se não quisessem ir”. Pensou: - benditas são as mulheres, elas sabem chorar.

Três pastos, uma casa, uma roça de mandioca, arado, carro de bois, cavalo, gado e cachorro. Uma mulher e doze filhos. O baque na cancela era um adeus a tudo isso. Já tinha sido homem, agora não era mais nada. Não tinha mais nada”.

Torres é um colecionador de prêmios e como são muitos, eu quero destacar aqui alguns:

- Chevalier des Arts et des Lettres, concedido pelo Governo Francês, pelo conjunto da sua obra publicada naquele país;

- Prêmio Machado de Assis, oferecido pela Academia Brasileira de Letras e que é o mais importante prêmio literário do país; e

- Prêmio Passo Fundo Zaffari & Bourbon, que é o mais caro premio do Brasil (a bagatela de cem mil reais).

E é um dos poucos escritores brasileiros que tem sua obra adquirida por editoras européias antes mesmo da publicação no Brasil. Esta é uma demonstração de confiança absoluta dos editores em sua obra. Só com autores consagrados no exterior acontece tal fato. E no caso dele há até uma disputa pela compra dos direitos de publicação de sua obra.

Mauro Salles, um dos maiores publicitários do mundo, declarou que, em diversas ocasiões, presenteou amigos com livros de Antônio Torres em língua estrangeira. E mais uma prova da dimensão da obra dele é que a escritora inglesa Doris Lessing esteve no Brasil e manifestou grande interesse em conhecer o autor de Essa Terra, fato este que até hoje o emociona.

Antônio é um dos escritores brasileiros mais lidos no mundo, a sua narrativa é fina e elegante e, por este motivo, na Universidade de Nantes, na França, há três romances brasileiros de leitura obrigatória, um de Graciliano Ramos e dois de Antônio Torres – Essa Terra e O Cachorro e o Lobo –, e na Sorbonne, também na França, o Meu Querido Canibal vem sendo estudado e Torres é estudado ainda em universidades da Itália, de Portugal, e da Alemanha...

O jornal Lê Monde – da França – o classificou entre os seis melhores escritores do Brasil, e ele também já foi qualificado como o legítimo substituto da obra de Graciliano Ramos e Jorge Amado.

Torres já participou, como convidado, do Salão do Livro de Paris – em duas ocasiões -; da Feira do Livro de Frankfurt, na Alemanha; da Feira do Livro de Brive, na França – como principal convidado brasileiro - ; da Feira de Livro de Caiena, na Guiana Francesa; além de Festivais em Cuba, Bulgária, Polônia, Holanda e Portugal, e de muitos outros eventos, e onde quer que a literatura esteja sendo discutida ele é convidado para fazer parte, pois é um autor engajado com o seu tempo e o seu mundo.

Torres tem se dedicado cada vez mais à literatura, e de sua residência em Itaipava, Petrópolis, Rio de Janeiro, ele teve o seu trabalho reconhecido, em três ocasiões, pelas autoridades satirodienses: A primeira quando batizaram com o seu nome a Biblioteca Pública Municipal; a segunda quando foi convidado a fazer parte dos festejos comemorativos aos quarenta anos de emancipação política do município e por fim, mas não por último, quando a Câmara de Vereadores outorgou-lhe uma Moção de Parabenização, por seu esforço permanente na divulgação desta terra ao redor do mundo.

Após tudo que exposto foi aqui, não posso deixar de registrar que Torres é um referencial para mim, e a leitura das suas obras um compromisso permanente pelo prazer que me proporcionam.