MEU AMIGO ALBERTO CONTINUA ( Isto não é uma homenagem póstuma)

E, de repente,

Numa tristíssima de manhã de 10 de junho

O corpo do meu amigo

Ali

Estátua

De mãos geladas

Deitada estátua

Com o rosto sereno

De pedra.

E eu me lembrando

Do meu amigo a cantar

A VOLTA DO BOÊMIO

E de todos aplaudindo

A sua voz possante

No karaokê.

Eu me lembrando dele

A tomar seu vinho.

Eu me lembrando dele

Em seus haicais de humor

E de sabor.

Eu me lembrando dele

A me dizer:

Você é minha “ídola”

Ele, que gostava dos meus haicais.

Meu amigo Alberto

Tão japonês

Tão brasileiro

Sempre a circular, tão livre,

Entre os dois mundos:

O mundo dos japoneses serenos, contidos

Na sua Língua e linguagem

Nos seus gestos

Nos seus símbolos

E o mundo

Dos que cantam

A VOLTA DO BOÊMIO

Em Português sem sotaque.

Meu amigo Alberto

Aquela estátua ali

De rosto sereno

De pedra?

Meu amigo Alberto

Agora, quase um dia depois,

Já só algumas cinzas

No cemitério

Da Vila Alpina?

Ah, não!

Meu amigo não ficou naquela estátua

Nem nessas cinzas.

Meu amigo voou.

Meu amigo voou

E continua

Para além do nosso olhar.

Alberto continua.

Para além do nosso olhar

Alberto voou e continua

Para sempre.

Na manhã de 11 de maio de 2011