MONÓLOGO com MANINHO

Monólogo com Maninho

Olá, meu querido irmão. Hoje é um dia especial, é o seu aniversário. Pois é, meu amado, hoje você completa 53 anos. Pensei que festa daria a você... então, que tal contratarmos o Roupa Nova ou The Fevers?! Ah, se pudéssemos, ein?! Enfim, como não posso contratar uma banda para fazer a festa, irei presentear você com minhas memórias, com nossas histórias. Que tal?!

Especialmente do túnel do tempo...

Maninho, querido Gilfarnes, lembra de nossas brincadeiras na Monguba?! Morando ao pé da serra? Tirando frutas direto das árvores? E eu, feito uma macaquinha, de galho em galho?! Tempos bons... mas não esqueço daquela maldade que você fez com um pinto. Tadinho, você enfiou no, pois é, lá mesmo, só pra ver como o coitadinho andava teso. Que coisa, ein?!

E de corrermos descalços no meio da rua? Debaixo de sol ou chuva. E aquela cacimba enorme? Você, o Bebeto e os primos amarrados pela cintura com uma corda podre, pendurados, mergulhando. E nós? As meninas? Na borda da cacimba olhando e vigiando, caso chegasse algum adulto pra estragar a festa, avisávamos. Nossos anjos da guarda nos salvaram. E como!

E naquele dia que você inventou de correr na frente do trem?! Nesse dia você mata quase todo mundo do coração. O pior foi a surra que você levou do nosso pai, ein?! Mano, mas ele gostava de bater na gente, ein?! Não sei por que, éramos tão calmos, apenas fazíamos as travessuras de crianças, tais como: correr, pular, brincar e brigar. Como éramos briguentos, aliás, você nem tanto, mas eu! Ai, ai... lembra daquele dia que meu pai foi “forçado” a comprar uma televisão, em preto e branco, colorida ainda não existia. Por quê? Não se lembra? Ora, como não tínhamos TV em casa, assistíamos no pátio da Igreja Católica, os degraus serviam de arquibancada. Então, eu muito atrevida marquei meu território. Peguei um esmalte e pus um X, só quem sentaria ali seria eu. Muito atrevimento mesmo de minha parte. Um espaço destinado a todos eu delimitei onde eu iria sentar como “cadeira cativa”. O que aconteceu? Não lembra?! Ah, Maninho, você precisa melhorar sua memória. Está certo, entendo, está ficando velho. Pois é, um menino, creio que o nome dele era Wilson, chegou e sentou em cima do X, no “meu lugar”. Eu cheguei e disse pra ele sair. O que ele me respondeu? Que não sairia. Então, a raiva tomou conta de mim, que menino atrevido, tomar o meu lugar marcado! Pulei em cima dele e bolamos os dois no chão feito dois gatos briguentos. Foi horrível. Apartaram a briga e levaram-me pra casa. O pior foi quando o nosso pai soube da história, ainda bateu em mim, por ter me comportado tão feio, brigando na rua feito cabra macho. Meu pai teve que comprar uma televisão, porque no outro dia eu estava lá sentada, no meu X, com minha boneca de pano e um pedaço de pau. Ai de quem se atrevesse a sentar naquele símbolo vermelho, indicando “perigo”, pois era o lugar marcado da Loura. O bom da história, nossa mãe ganhou uma televisão!

E quando éramos adolescentes?! Ou melhor dizendo, aborrecentes! Você me ajudou muito a não levar peia do nosso pai. Obrigada, irmãozão! Por que será que ele gostava tanto de surrar nós dois? O Bebeto não apanhava, mas ele era esperto, quando o pai reclamava algo ele logo chorava, então, não precisava nem dar uma coça. E a mana Moça? Ah, esta era a princesa da casa, por ser a mais velha era a moça comportada, por isso o apelido a “moça do papai”. Acho que ela nunca levou uma palmada. Oh, bichinha de sorte! Em compensação, nós dois... o que tínhamos de secos, éramos magros pra cachorro, tínhamos de osso duro de roer. Tadinhos de nós dois, era quase uma peia por dia. E você, ein?! Papai batia e você dizia: “Nem chorei e nem tô de medo”. Isso o irritava cada vez mais.

Deixando as peias de lado, nós brincávamos muito, tanto quando crianças como também na adolescência. E as festas que íamos? No nosso velho Maracanaú, ein?! Com as bandas “Os Brasas Seis” e “Paulo de Tarso” no Ginásio Gustavo Barroso. E as tertúlias? No centro da quadra do Gustavo Barroso. Cada casal disputava o quadrado da lajota, minúsculo quadrado. E os carnavais com as bandinhas no Instituto São José? Bom demais! As tertúlias e festas só tinham graça no Gustavo Barroso e os carnavais no Instituto São José. Tempos bons!!!!

Pois é, o tempo passou, os quatro filhos casaram, todos pais e eu avó. Quem diria ein, Maninho?! A Loura avó! Pois é, minha neta é linda, Ana Luíza. Sou uma avó super coruja. E você é tio-avô. Viu que maravilha?!

Meu querido irmão, apesar do tempo a enorme saudade continua, parece que foi ontem a sua viagem... há dez anos que você partiu...

De todo desespero que passamos no hospital, há duas cenas das quais não esqueço: a primeira em relação à sua preocupação comigo quando prendi o dedo na porta. Você, com todos os fios em seu corpo, levantou a cabeça rapidamente e disse: “Você está bem, Loura?” Como sempre, você preocupado com sua irmã. Esquecia a própria dor para pensar no outro. E a segunda cena, quando o médico autorizou que desse o alimento que você quisesse, pois afinal estava chegando o momento... e você pediu sorvete... o máximo que você pôde engolir foi um pouco de sorvete de manga, numa colher de chá. Você olhou para o Cristo crucificado que estava em frente a sua cama e com um brilho nos olhos e um leve sorriso, com as mãos elevadas a Ele, você agradeceu... poucos dias depois você fez a viagem...

Meu querido Maninho, adorado Gilfarnes, só posso dizer que sinto muito a sua falta... e como você sempre dizia: pare com a tristeza e sorria... então, meu amado irmão, FELIZ ANIVERSÁRIO!!!!!

Gildênia Moura

21.09.2010