Despedida

Querido avô,quando você se foi restou aqui um imenso vazio, nunca tive coragem de escrever meus lamentos, eu queria parecer forte...

Hoje depois de tanto tempo resolvi expor o que te escrevi naquele dia

Está tudo tão ruim...

Metade de todas as coisas não são mais como eram antes

Havia um sorriso interminável em meu ser

Algo que irradiava por todas as pessoas à minha volta

Uma alegria que fazia procurar alguém para dividi-la

E as noites de inverno eram tão quentes

As de verão pareciam ter uma magia, um calor inexplicável, abrasador

Eu era tão feliz...

O lado que eu queria descobrir ansiosamente, mas nem sabia o que me aguardava

Eu queria conhecer mil caminhos

Me achando tão pequena diante daquela multidão...

Eu vi rostos brancos, pareciam pulverizados pela neve

Mas um me fez sofrer tão intensamente

Pela primeira vez eu vi a dor de perto

Um rosto tão doce

- Por favor, não vá! – eu disse.

Mas a flor foi meu último adeus...

Tão alva como aquele rosto tão sorridente que eu perdia

Eu era tão feliz...

Tão real, tão autêntica...

Por que me ensinaram o que eu não queria aprender?

Eu não sei para onde fugir

Eu quero e preciso, agora

Vivo perdida olhando o horizonte

Esperando que uma mão me acene

Feliz, real, autêntica...

Com o mesmo brilho que eu conheci em minha vida um dia

Sinto a força que eu tinha um dia, sumindo, se esvai...

Perco os amigos, perco o amor, perco a doçura, perco a humildade, a serenidade

Algo que eu tinha, uma palavra

O fôlego acaba, resta o que?

E o respeito, e a minha vontade?

O que foram feito deles?

E a minha riqueza interior...?

Sou uma casca exposta a qualquer golpe...

Eu quero fugir desta realidade,

Quebrar esta dor

Curar a ferida

Mas como? Como?

Já não tenho palavras para elaborar as perguntas

Como então, obter as respostas

Senhor, lembra quando minhas orações ingênuas chegavam até ti?

“Devolva-me a força, o sorriso, a garra para continuar”

As pessoas me exigem força, mas não me dão paz...

Saudade de acariciar seus sedosos cabelos brancos

Saudade do seu largo sorriso...

Saudade de seus balões de jornal

Saudade dos carrinhos de rolimã

Dos joguinhos de prego

Das bolas de sabão

Dos seus óculos enormes colados com Durepox

Saudade das suas frases com ditos antigos

Saudade do Cornetto de todas as tardes...

Para Paulo Cravo

JANA CRAVO
Enviado por JANA CRAVO em 08/07/2010
Código do texto: T2365996
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