Como falar de Saramago? Como homenagear um verdadeiro gênio nas letras, se minhas palavras são pobres e sem vida? Como posso lavrar qualquer sentimento para alguém que foi capaz de escancarar o feio, o belo, o filosófico como Saramago fez? Com certeza não o farei através de perguntas dúbias e retóricas. Não tenho um rastro do talento e nem um canto da amplitude de José Saramago; Assim, vou abster-me e deixar que a literatura dele fale por si:
“Nem a arte nem a literatura têm de nos dar lições de moral. Somos nós que temos de nos salvar, e isso só é possível com uma postura de cidadania ética, ainda que isto possa soar antigo e anacrônico.”
“A alegoria chega quando descrever a realidade já não nos serve. Os escritores e artistas trabalham nas trevas e, como cegos, tateiam na escuridão.”
“É ainda possível chorar sobre as páginas de um livro, mas não se pode derramar lágrimas sobre um disco rígido.”
“Em vez de ouvirem os escritores em busca de respostas sobre o que somos, as pessoas precisam ouvir umas às outras, porque nós, autores, não somos mais do que meros trabalhadores da palavra.”
"Se me perguntam por que escrevo, dou 30 respostas, nenhuma certa."
“Somos todos escritores, só que alguns escrevem e outros não.”
“O que realmente nos separa dos animais é a nossa capacidade de esperança”.
“Se não formos capazes de viver inteiramente como pessoas, ao menos, façamos tudo para não viver inteiramente como animais.”
"Nem a juventude sabe o que pode, nem a velhice pode o que sabe." (A Caverna)
“Nossa maior tragédia é não saber o que fazer com a vida.“
“Aprendi a não tentar convencer ninguém. O trabalho de convencer é uma falta de respeito, é uma tentativa de colonização do outro.”
"Somos a memória que temos e a responsabilidade que assumimos.”
“Para que serve o arrependimento, se isso não muda nada do que se passou? O melhor arrependimento é, simplesmente, mudar.”
“Não tenhamos pressa, mas não percamos tempo”.
"Sabido é que todo efeito tem sua causa, e esta é uma universal verdade, porém, não é possível evitar alguns erros de juízo, ou de simples identificação, pois acontece considerarmos que este efeito provém daquela causa, quando afinal ela foi outra, muito fora do alcance do entendimento que temos e da ciência que julgávamos ter." (A jangada de pedra)
"Antes eu dizia: 'Escrevo porque não quero morrer' Mas agora mudei. Escrevo para compreender o que é um ser humano."
“Todos sabemos que cada dia que nasce é o primeiro para uns e será o último para outros e que, para a maioria, é só um dia mais.”
Uma luz de sabedoria apagou-se com o falecimento do vencedor do prêmio Nobel de Literatura – 1998 – neste última sexta-feira. Concordo com Meirelles: “A lucidez naquele grau é um privilégio de poucos, não consigo escapar do clichê, mas definitivamente o mundo ficou ainda mais burro e ainda mais cego hoje.”