MÃE
Para minha mãe, Nair e para minha querida amiga Bel Campos, do Recanto das Letras
No centro da parede, o retrato antigo, em meio-corpo, da adolescente com o delicado rosto sobressaindo dos cabelos castanhos, anelados, rosto a emergir do romântico vestido furta-cor, de tafetá. Na boca, sugestão de batom cor-de-vinho. Um coração de menina, com os sonhos todos intocados, intactos.
Desta menina operária, que ia à fábrica todos os dias e no domingo à missa, quais poderiam ser os sonhos? Sonharia, talvez, com grandes realizações profissionais? Imaginaria para si uma professora, ou advogada, ou médica, ou engenheira, ou cientista...todas eminentes? Havia, decerto, muitas meninas, já naquele tempo, a tecerem semelhantes sonhos.
Ela, não. Sonhava apenas com um príncipe encantado a trazer na bagagem, abraços, beijos e filhos.A FELICIDADE. Esta menina do retrato: minha mãe.
Zuleika dos Reis.