MISCELÂNEA PARA TÂNIA (Homenagem que recebi da amiga e colega, Celêdian)

Conheci recentemente a poeta (poetisa) Tânia Meneses e em seu primeiro verso que li havia uma indagação, “Por que fiquei assim, rocha...” e no último verso daquele poema, “Por que fiquei assim, sem SINAIS DIACRÏTICOS.” Sei bem que os poetas locam a poesia, para nela habitar como se seu mundo fosse e vivem-na tão intensamente que chegam a entregar o seu ser à poesia, seduzindo pela sua inspiração, os nossos sentidos, sem que nunca saibamos o limite entre o real e o surreal.

Instigada pela rocha que parecia morar ali, ousei desvendar-lhe o segredo da alma de poeta e divaguei sentindo real a sua dor. Disse-lhe então que, tornamo-nos rochas ao longo do tempo, quando aos poucos vão se juntando os sedimentos e estes vão se consolidando. E nesta metáfora que a nossa solitude provoca, os sinais tão essenciais, passam a não distinguir mais a modulação dos nossos sentimentos. Não há hífen na auto estima, nem há trema na languidez dos dias, sem agudos das ideias, acentuam-se as lágrimas que também se cristalizam e enrijecem a rocha. Contudo e felizmente, as rochas podem tornar-se cristais, emitem luz em seus reflexos e da mínima luz projetam imensas sombras. As sombras são o repouso para a alma e aliviam a inércia das rochas.

Aquele poema tornou-me sua leitora assídua, ávida por conhecer e contemplar a sua obra. Persisto e sinto naquele DÓ LÍQUIDO que escorregava do violino para a taça, momentos de lassidão tão íntimos, um dó que soava com a mesma prostração da alma. Uma lágrima que insistia em persistir nos olhos, embaçando-lhes, talvez num último apelo para não rolar face abaixo, para não se misturar na taça o choro do dó e o dó da alma.

Encontro-a adiante lutando para alçar um voo poético, digladiando entre seus apaixonantes versos livres e os sedutores sonetos, numa tentativa de compor uma página, culminando numa maravilhosa POSSE POÉTICA, “num íntimo, fero torpor, agonia, (...)” na posse do poeta que canta e irradia. Na ruptura do vínculo com a sanidade, entre o concreto e o incerto, neste paradoxo, LIAME entre razão e loucura e a união dos pólos, o choque, a explosão, no que parece impossível, deslancha numa deliciosa controvérsia nos versos, restabelecendo a calmaria, das brasas às cinzas. Aquiescido o seu enlevo de amor pela poesia, confessa que se há MORTE DA POESIA, leva-a consigo e encerra-se sua vida. Então pondero, se a poesia é depositada numa lápide fria é porque o amor antes jazia e a vida que do amor vivia, feneceu. Pois penso que ser poeta é morrer de amor em cada verso e amar é viver em poesia.

Mesmo perdida nas tormentas, vagando sem rumo entre as estrelas, “nômade de uma noite estelar”, “como a mais longa ALFOMBRA”, esta bela alcatifa irrigada pelas lágrimas de amor intenso, amanhece. Amanhece em oração e na humildade do seu coração pede perdão à PIETÁ, pelos seus olhos só a poder contemplar na sua condição humana, indignos que somos de sermos acolhidos pela sua benevolência.

Como a pedir clemência pede DEMISSÃO, “Como faço/Para me demitir/Desse sofrimento/De ser poeta.” E eu lhe respondo: Senhora poeta, nós, os seus leitores assíduos e seus ferrenhos fãs, não admitimos a ideia que se demita, ou que seja demitida, nem pela justa causa de se encontrar em sofrimento. O que queremos é que saiba, que o prazer que temos de sabê-la poeta de grandeza imensurável e ao nosso alcance, é do mesmo tamanho e intensidade da alegria que queremos que sinta, em saber-nos seus eternos admiradores. E do carinho que emana de nós, motivo suficiente para relevar o sofrimento de ser poeta.

E é na FEBRE que me encontro “Não confunda/Gato com lebre” que escrevo do que extrai do melhor, da poeta maior, esta MISCELÂNEA. É a mais singela homenagem que posso prestar à TÂNIA.

BELO HORIZONTE, 18 de abril de 2010

Celêdian Assis

Celêdian:

Em lágrimas e todo o meu corpo em frêmito, a alma em êxtase, coloco-me corpo e espírito a seus divinos pés de poeta.

Neste solene momento, peço, imploro a Jesus que você veja e sinta minhas lágrimas de agradecimento e emoção.

Há tanta beleza em seu texto, tanta serenidade e a máxima competência de um mergulho na obra de uma autora, mergulho total e apaixonado.

Eu vejo que lê a minha alma, eu sinto que penetra no mais recôndito dos recônditos do meu ser. E isto não acontece tão somente pela sua magnífica página de crítica literária. Jamais em minha vida recebi, em meio a tantas, uma homenagem assim como a sua. E de outro estado, tão longe de nós! Vejo nisto os insondáveis desígnios de Deus, vejo nisto que nossas almas se conhecem de alguma maneira. Que a sinto amiga, irmã, anjo e colega.

Venho repetindo que fiz algo de tão bom e não sei o que exatamente foi, pois Deus me recompensa e Ele só recompensa em profusão. Os presentes de Deus são incomensuráveis. E este texto que escreveu sobre a minha obra é inquestionavelmente uma graça em tudo extasiante.

Se minha alma serve para alguma coisa, querida Celêdian, deposito-a em suas mãos abençoadas de poeta.

Abraços e beijos de muita emoção.

Que o Divino Espírito Santo paire sobre você e todos os seus.

Tânia