MAGISTÉRIO: O ROTEIRO DA PAIXÃO

“Assim como o gesto é o que fala mais autenticamente sobre a pessoa, a metáfora é a que fala mais autenticamente sobre a poesia.”.

Lígia Antunes Leivas, in Orkut, 08Abr2010.

Observa, querido leitor, até onde vai a generosidade de uma mestra para com o seu aluno. Vê, com algum cuidado e acurada percepção, a riqueza de detalhes com que a professora Lígia Antunes Leivas (Lilu) explicita a sua verve. E adeja a palavra ao vento, gratificando, de pronto, o seu eventual leitor.

E, por não conseguir ficar calado, imaginei que nada melhor do que a palavra para seqüenciar este “roteiro da paixão”. Quem nasce para o sacerdócio magisterial é uma denodada criatura do Bem.

Feliz quem – como eu – tem a felicidade de compactuar com o futuro, e, nesta hora, falar sobre o que havia nos arrabaldes de minha juventude. Os tempos de menino não eram fáceis de ser trilhados, mas havia a esperança de luz no estreitamento do túnel... Não o simples sucesso pessoal, mas o conhecimento abeberado na família, na escola, e na experimentação dos dias. O trilhar posto na rua: pedras e cimento para a construção...

E o reencontrar – em carne e osso – na palavra-mestra original do sopro ginasiano, lá nos idos da década de cinqüenta, século XX.

Estou muito feliz por poder exprimir o meu afeto, o imenso apreço e o agradecimento pelo mistério da palavra, já que foi ali, na sala-de-aula, que nasceu o amor pelo idioma e pelo mistério que ele encerra. Tanto no livro, quanto na verve professoral da “mocinha” que apontava o futuro ao aluno alguns anos mais moço.

Hosanas aos mistérios do caminho pontuado pelo Amor e pela Poesia! A história talvez nunca aponte estes detalhes. Mas o que é pessoal, um dia pode se consistir em relato (literário?) de agradecimento.

Salve, minha professora Lígia, amada dos idos de minha escola secundária, a Escola “Assis Brasil”, em Pelotas, ao sul da Pátria.

Se estou, hoje, algo melhor do que esperávamos, a raiz intelectiva e emocional está aqui apresentada. Um de meus “totens” está vivo!

E a cotovia canta o seu solilóquio...

“A próxima despedida

Despedidas dividem vidas.

Às punhaladas a incerteza do retorno

desafia a saudade que começa dolorida.

Boca cheia de amargura

quase sufocada a garganta

ferida aberta... vazios sem respostas.

Agonizam centenas de minutos eternos

...pedaços jamais refeitos pelo tempo.

Salto para o meio da espera

(o resgate ainda virá...)

Mel ou fel - em nós, afinal, é assim:

tudo "está", nada "é"

...e tantas vezes a vida não vai além

de uma peça ingrata a encenar

a próxima despedida.”.

lilu

Publicado no Recanto das Letras em 25/03/2010

Código do texto: T2159332

Comentários

06/04/2010 16:18 - Joaquim Moncks

Eis uma abordagem pungente sobre um tema que quase sempre se apresenta como "tabu". Sério, realista, questionador. Bem dentro de que "poesia exige reflexão". Por ser prato que não se come frio, o poema perpassa a sua humilde condição de poema, e em cada verso há dezenas, centenas, milhares de inserções possíveis para o temário. Aqui está "Despedida", com sua aura de resignação e de certeza de que somos finitos neste plano. Depois, quem sabe? Parabéns, querida “profa”, os versos são escolásticos, magnificentes em sua humana generosidade. Beijos do sempre aluno JM.

Para o texto: A próxima despedida (T2159332)

De: lilu

----- Original Message -----

From: "Recanto das Letras" <recantodasletras@recantodasletras.com.br>

To: "Joaquim Moncks" <joaquimmoncks@gmail.com>

Sent: Tuesday, April 06, 2010 4:34 PM

Subject: Contato de visitante

Assunto: Constatação

Nome: lígia antunes leivas

E-mail: litterisll@yahoo.com.br

IP: 187.23.151.160

Mensagem:

Oi Moncks amado!!!

Bem... mas sabes qual é a maior glória para um professor que ama sua missão??? ... ser superado pelos seus alunos!!! Por isso vivo FELIZ! Cumpri – e muito bem! – minha missão! E seriam necessários mais argumentos???

bjs líricos, Lígia

--- Em terça, 6/4/10, Joaquim Moncks - Gmail <joaquimmoncks@gmail.com> escreveu:

De: Joaquim Moncks - Gmail <joaquimmoncks@gmail.com>

Assunto: Re: Contato de visitante

Para: "lígia antunes leivas" <litterisll@yahoo.com.br>

Data: Terça-feira, 6 de Abril de 2010, 17:02

Obrigado! És que tu remexeste a alma dos teus pupilos com a doçura do que sabem apontar o caminho...

E que Deus te guarde pra continuar me dando lições de intelectualidade e amor.

Se estou melhor como escriba, devo aos que me leem e opinam. Ajuda em muito. Também aplaca a inquietude de saber se o autor foi entendido...

Te amo muito!

Beijão do poetinha JM.

----- Original Message -----

From: ligia leivas

To: Joaquim Moncks - Gmail

Sent: Tuesday, April 06, 2010 8:12 PM

Subject: Re: Contato de visitante

Só POETAS para tão comovente texto... a poesia é bem assim... mais do que qualquer coisa, precisa convencer comovidamente quem a lê!

FOSTE comovente ! Graças mil!

Bênçãos siderais... (se as estrelas no céu estão extremamente distantes umas das outras, aqui da terra, para nós, elas parecem unidas para um brinde à nossa alma... Que elas iluminem teus caminhos!)

Um especial e grato abraço,

Lígia.

Que fique ao tempo o penhorado agradecimento e a homenagem do eterno aluno. Daqui a algum tempo haverá a despedida (oxalá que nem tão próxima) e ficará, somente, o cadinho cavernoso e gutural de futuros. E nunca saberemos o quanto a palavra, neste belo idioma, aguentará o decorrer dos tempos.

Fiquemos com Fernando Pessoa:

“A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.

Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,

E a língua em que foram escritos os versos.

Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.

Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente

Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas...”.

“A sorte está lançada”, como disse Júlio César, ao atravessar o Rubicão...

– Do livro ALMA DE PERDIÇÃO, 2009/10.

http://www.recantodasletras.com.br/homenagens/2182952