Saudades da "vó preta"
Muita gente que amamos partem para a continuação da vida junto do Criador, é minha fé, no que creio e espero.
Os primeiros que vão são os avós, numa ordem natural da vida. Eles não morrem, partem, porque já estão preparados para o encontro, face a face, com o Criador.
Minha avó paterna, tenho poucas lembranças dela e as que tenho são boas, gostava e me amava.
Um fato marcou todo dia ela me esperava chegar da escola e queria me ver, estava de cama, e no dia que partiu demorei a chegar, jogava futebol com os amigos, e no meio do caminho recebi a notícia, cheguei em casa e vi que era verdade, chorei muito.
Depois meu avô paterno e, mais alguns anos, meu avô materno.
Mas a que tenho mais recordações é de minha “vó preta”, seu nome Alzira, negra, descendente de escravos com certeza, coração enorme, sempre disposta e pronta a servir as pessoas.
Numa fazenda em que trabalhou eu ia passar as férias e na adolescência morei um tempo com ela. Agrado em doces, bolos, me tratava como um rei.
Nunca se incomodou quando chamávamos de “vó preta”, nunca se sentiu discriminada, ofendida ou violada em sua dignidade por isso, até gostava e se denominava assim aos netos mais novos e bisnetos.
Morreu nos braços de minha mãe e outros dois filhos no quarto ao lado da cozinha onde eu estava e ouvi seus últimos suspiros.
“Vó Preta”, saudades.