Imortal, Imortal, Imortal

Para você pode ser difícil entender o que a gente daqui escreve. É que você não tem o “viceralismo” que encontramos nas ruas que andamos, embora o dinheiro pareça o maior poder, é de papel, se rasga, se vende se compra, tem valor estipulável. O que temos aqui não.

Não me orgulho do verde e amarelo, nem do Ypiranga, nem das forças armadas, nem das caras pintadas, tampouco do planalto projetado. Na verdade orgulho é algo que talvez você nem conheça, pois, geralmente nos orgulhamos do que é nosso, genuíno e o que é teu aí? As paredes de concreto? As ruas de asfalto? Me conta? Tudo o que é nosso e nos causa orgulho, é construído cada dia de manhã, em cada parada de ônibus, em cada pátio, em cada mercado, em cada ponte, em cada braço de mangue ou maré. Me conta o teu mundo como é que é? Aqui temos um hino que nos emocionamos quando cantamos, uma musica que pulamos quando escutamos e um orgulho danado quando leão do norte escutamos.

Aqui não corre sangue lusitano, corre suor pernambucano, corre a voz, o som, o batuque, a rima, negros, brancos, mamelucos, cafuzos, índios e puritanos, diabos, loucos e insanos, deuses e mães de obá. Aqui todo mundo é gente, embora não estejamos livres da discriminação, aqui o peão até sente orgulho de ser peão. O sotaque arrastado cantado, é painho, mainha, um dengo danado, tudo isso é combinado, é a face doce do guerreiro do mato, do homem caranguejo, do homem do circo, do homem da viola, da luta do quilombola.

São autos, altos e atos que fazem o nosso carnaval, o cordel é a voz do pobre, mas, com berço cultural, a cultura não são os quadros, a MPB, que ver? Eu vou perguntar uma coisa pra você: Qual gênero Lenine canta? Cordel do fogo encantado canta? Silvério canta? Otto canta? Nação canta? Não existe gênero é tudo MUP (musica unicamente pernambucana), geralmente muito “demais” para o seu povo perceber.

Vem pra perto pra ver, aqui a cultura jorra em cada praça, em cada bar, em cada bordel, em cada cobertura de arranha céu, em cada trecho de beira mar, em cada por de sol, em cada quiosque na praia, em cada luar, na alegria do sertanejo ao ouvir trovejar, no piscar do relâmpago, nas pontes no ar.

Talvez daqui você só se lembre das Pontes, do Galo, do Marco, de Noronha, de Porto, de Olinda e os gigantes. Não vou tomar mais o teu tempo nem vou me alongar, mas, do mais belo que acho eu vou te falar. Eu acho lindas as pontes que cortam o mar, os rios, os braços, os córregos e unem o lá e o cá e faz o individuo as barreiras ultrapassar.

"A ponte nem tem que sair do lugar

Aponte pra onde quiser

A ponte é o abraço do braço do mar

Com a mão da maré

A ponte não é para ir nem pra voltar

A ponte é somente pra atravessar

Caminhar sobre as águas desse momento"

Deve ser muito complexo pra você entender, vai cuidar da anhaguera e da marginal Tietê, da urca do corcovado e de tudo que orgulha você, pois, igual a minha terra não tem e nunca vai ter.

Desculpa o bairrismo, é que não perco nem a pau.

*Trecho de A Ponte - LENINE

O velho moço
Enviado por O velho moço em 11/02/2010
Reeditado em 12/02/2010
Código do texto: T2081703