Um pedaçinho especial de mim
Homenagem ao meu pai Álvaro Pelegrinelli
Nesta manhã fria
Do dia vinte e cinco de setembro,
Assim que os meus olhos se abriram,
Em meu pensamento
Veio a sua imagem...
Recordei ser um dia especial.
Pensei ir até um jardim, apanhar
Uma flor – a mais bela...
Mas não havia jardim,
Tampouco uma flor...
Me entristeci,
Pois algo queria lhe ofertar.
De mãos vazias retornei...
Sentada à margem do leito, me pus a refletir
No caminho que percorreu...
Ao lado da mulher que Deus escolheu
Para compartilhar e viver a prova do amor.
Caminhos que eu terei que passar...
Obstáculos, curvas que por mim são desconhecidas...
Sou tão puco
Quando me contrario com o seu modo de pensar.
A sua experiência de vida
Foi o que amadureceu a minha.
Sinto saudade de mim
Quando pequenina – minha voz não se alterava
Quando a palavra ao Senhor eu dirigia...
Eu era apenas uma criança
De coração puro e olhos cobertos de magia...
Sei que muitas vezes o fiz chorar.
Não me mostrou suas lágrimas,
Mas eu as senti cair
No esconder de sua face fechada.
Confesso que muitas vezes também chorei.
Dói-me quando, sem querer,
Colocamos-nos a nos magoar.
O mundo está tirando de nós o diálogo...
Nem peço a benção quando vou me deitar.
Como gostaria de retornar e reescrever tudo...
No tempo buscar a inocência que eu tinha,
O melhor de tudo que aprendi.
Não sentir pudor
E todo e cada dia lhe provar
Como é grande o meu amor
Pelo o Senhor...
Desejei tanto uma flor
Que ela se fez poesia
Nas palavras que minhas mãos, ora vazias,
Nas teclas da máquina de escrever, datilografei...
Pai, as pétalas da flor murchariam
Com o tempo...
O meu amor é intenso
Só as palavras podem
Conjugá-lo no infinito.
Te amo no meu intimo...
Sua filha – sua estrela... pequenina.
Poesia publicada no livro: “Afeições”, de Andréa Pelegrinelli, Editora Scortecci (2000) – pág: 62.