Josué
Tinha os olhos azuis, como o céu. Um homem magro, sofrido quando mais novo. Sempre em sua maleta as ferramentas, orgulho de seu ofício. Vinha à nossa casa a pé, sempre. Hora e meia de caminhada na ida e outro tanto no retorno.
Sempre nos visitava em dia de semana. Já sabíamos. Minha mãe mudava o cardápio, ia até o açougue. Meu pai mandava buscar um litro de vinho no mercado, coisa rara na minha infância.
Em volta da mesa, meus pais, eu e meus irmãos e meu avô paterno. Sotaque italiano, embora tivesse vindo menino ainda ao Brasil, não perdeu nunca. Magro, de uma tuberculose que foi curada com sangue de boi tomado em goles, no matadouro aqui da minha cidade.
Vieram do sul de Minas justamente para que ele se curasse, lá não havia recursos. E o doutor recomendou: _ Sangue fresco de boi.
Ele sarou. Mas era magrinho. Quando íamos visitá-lo, depois de sua viuvez, ele tinha sempre um guaraná para os netos e uma caracu para tomar com meu pai. Pai e filho tinham uma conversa em tom baixo, nunca o vi falar em tom alto. Acho que não tinha forças.
Num quarto dos fundos da casa, separado, tinha uma rede, onde ele colocou uma cordinha e podia-se balançar, puxando a cordinha, numa moleza deliciosa.
Nos fundos do quintal, um pomar. Frutas delicadas como amora, ameixa, que bonito. Ele era um jardineiro profissional. A cada visita minha mãe ganhava um jardim sofisticado.
Meu avô merecia o almoço caprichado. E me deu vontade de chorar.