MAYSA
Em 1963 eu completava 15 anos de idade numa época em que as debutantes eram o alvo da sociedade brasileira e as festas até hoje estão gravadas em nossas memórias.
Nesse mesmo ano, adoecia e falecia o Papa João XXIII, os Beatles gravavam o primeiro álbum, o Please Please Me, Edith Piaff morria, Maria Esther Bueno era campeã em Grand Slam, nascia Maria da Graça Meneghel, a Brasileira Ieda Maria Vargas conquistava o título de Miss Universo e Godofredo Diniz Gonçalves assumia a Prefeitura de Aracaju. Maysa Matarazzo tinha, então, 27 anos de idade e sua voz fazia até as pedras se apaixonarem pelos passantes nas estradas.
O que uma menina de 15 anos em uma cidade pequena, capital de um estado quase nada conhecido, poderia entender de Maysa e de sua história? Mas ouvia e também se apaixonava. Até pelas folhas das árvores, tamanha a sedução da voz e dos olhos penetrantes da cantora famosa pelos acontecimentos de sua vida e pelo temperamento sobre o que líamos, ouvíamos e víamos nos órgãos da mídia.
Para qualquer fim de namoro, o nosso mundo caía e entrávamos na fossa junto com a bela mulher de um milionário, sonho que esperavam realizar muitas jovens da inesquecível década de 60.
Quando íamos à praia aos domingos a voz acendia o sol, criava uma “festa de luz” e fazia “um barquinho deslizar no macio azul do mar”. Maysa era o verão.
Desconfiadas de um amor, ela nos ajudava mandando que ele fosse “viver a sua vida com outro alguém”. E no auge da paixão não correspondida, convidávamos a tristeza para um trago no bar e chorávamos da “tristeza de amar”.
Reconciliados os afetos, vinha Maysa e pedíamos para que ele nos beijasse muito porque tínhamos medo de perdê-lo outra vez.
Amamos, beijamos e vivemos intensamente o hino ao amor, conscientes de que todo grande amor “só é grande se for triste”. Para todo momento, de Maysa o alento. Na estrada dos belos olhos da cantora, seguíamos solitárias e solidárias até quase nos tornarmos, junto com ela, um molambo. Desesperadas, gritamos Ne me quitte pas. Ela nos deixou. Morremos um pouco.
Vi o primeiro capítulo da minissérie Maysa. É uma releitura, agora que me encontro aos 60 anos de idade. Muitos pensamentos acorrem. Que aconteceu com você, Maysa? Quem realmente você amou? Que queria mais dizer que não conseguiu? O que lhe dava o álcool que o amor não conseguiu?
Maysa, amante do mundo e do amor. A sensualidade em cada poro. A certeza da condição humana frente ao destino. Menina Maysa. Menina mulher. Mulher menina. A sua voz inconformada e doce ainda canta forte em nossas almas.