* O CENTENÁRIO DO FILÓSOFO*
“PAI,foste cavalheiro;
Hoje,a vigília é nossa.
Daí-nos o exemplo inteiro,
E,a tua inteira força.
(Fernando Pessoa)
Se estivesse vivo,meu pai faria hoje 100 anos.Refiro-me ao corpo físico,porque vivo,estará sempre em nossa lembrança,presente nos seus netos,bisnetos e trineta,nos ensinamentos que nos transmitiu,nos exemplos de caridade,solidariedade e honradez,que pautaram a sua vida.Meu pai freqüentava pouco igrejas,mas,era freqüentado por elas;padres e pastores reuniam-se na nossa casa,aos domingos,após os cultos,para usufruir da sua prosa inteligente e ecumênica e da sua hospitalidade de portas abertas e mesa farta.Seu senso de humor era notável;quando os religiosos começavam a discutir qual era o caminho mais rápido e eficaz para chegar ao céu,ele serenava os corações,dizendo:-não sejam tolos;quando a gente morre fica mais longe do céu sete palmos.
Já na casa dos oitenta,gostava de se sentar na varanda,na sua “espreguiçadeira”,aquelas “chaise longue” de lona com armação de madeira,fresquinhas e confortáveis,o jornal “A TARDE”,nas mãos;muitas vezes,esquecia de fechar a braguilha e,minha mãe vinha ,aflita,contornar a situação.
-Feche a braguilha.Que coisa!
Placidamente,ele respondia:-Prá quê?ninguém fecha porta de cemitério.
Velho,você faz muita falta!Eu o chamo,o filósofo Odalberto,de Jacobina,por ter nascido perto de lá,na Fazenda Brejo Grande,terra ancestral,onde repousam seus restos mortais,ao lado de todos os seus parentes.Em frente,você contempla a serra do Tombador,onde,na adolescência,pastoreava rebanhos;ao fundo,fica a casa centenária de seus pais,onde você nasceu e se criou;ainda existe o juazeiro milenar,onde você gostava de se sentar ao cair da tarde,sempre com um livro na mão,leitor compulsivo que era.Você me deixou uma herança fantástica;o gosto pela leitura,o “bate-pronto” incrível,a lealdade para com os amigos,a compaixão pelos humildes e sofredores e a coragem na defesa dos meus valores e ideais.Hoje,me olhei no espelho e vi os seus olhos,os mesmos olhos gateados que herdei de você.E,sabe o que descobri?A morte não existe;a gente está sempre presente nas sementes que deixamos,no legado espiritual ou genético que repassamos aos nossos.Porque,viver é repartir,compartilhar;e,nisto,meu querido,você foi porreta.
“PAI,foste cavalheiro;
Hoje,a vigília é nossa.
Daí-nos o exemplo inteiro,
E,a tua inteira força.
(Fernando Pessoa)
Se estivesse vivo,meu pai faria hoje 100 anos.Refiro-me ao corpo físico,porque vivo,estará sempre em nossa lembrança,presente nos seus netos,bisnetos e trineta,nos ensinamentos que nos transmitiu,nos exemplos de caridade,solidariedade e honradez,que pautaram a sua vida.Meu pai freqüentava pouco igrejas,mas,era freqüentado por elas;padres e pastores reuniam-se na nossa casa,aos domingos,após os cultos,para usufruir da sua prosa inteligente e ecumênica e da sua hospitalidade de portas abertas e mesa farta.Seu senso de humor era notável;quando os religiosos começavam a discutir qual era o caminho mais rápido e eficaz para chegar ao céu,ele serenava os corações,dizendo:-não sejam tolos;quando a gente morre fica mais longe do céu sete palmos.
Já na casa dos oitenta,gostava de se sentar na varanda,na sua “espreguiçadeira”,aquelas “chaise longue” de lona com armação de madeira,fresquinhas e confortáveis,o jornal “A TARDE”,nas mãos;muitas vezes,esquecia de fechar a braguilha e,minha mãe vinha ,aflita,contornar a situação.
-Feche a braguilha.Que coisa!
Placidamente,ele respondia:-Prá quê?ninguém fecha porta de cemitério.
Velho,você faz muita falta!Eu o chamo,o filósofo Odalberto,de Jacobina,por ter nascido perto de lá,na Fazenda Brejo Grande,terra ancestral,onde repousam seus restos mortais,ao lado de todos os seus parentes.Em frente,você contempla a serra do Tombador,onde,na adolescência,pastoreava rebanhos;ao fundo,fica a casa centenária de seus pais,onde você nasceu e se criou;ainda existe o juazeiro milenar,onde você gostava de se sentar ao cair da tarde,sempre com um livro na mão,leitor compulsivo que era.Você me deixou uma herança fantástica;o gosto pela leitura,o “bate-pronto” incrível,a lealdade para com os amigos,a compaixão pelos humildes e sofredores e a coragem na defesa dos meus valores e ideais.Hoje,me olhei no espelho e vi os seus olhos,os mesmos olhos gateados que herdei de você.E,sabe o que descobri?A morte não existe;a gente está sempre presente nas sementes que deixamos,no legado espiritual ou genético que repassamos aos nossos.Porque,viver é repartir,compartilhar;e,nisto,meu querido,você foi porreta.