RIO ESPERA
SURGIMENTO DO MUNICÍPIO
Rio Espera encontra-se na Zona da Mata, dentro da região do antigo Queluz de Minas, atualmente, o Alto Paraopeba - onde ficam também ficam as cidades de Conselheiro Lafaiete, Ouro Branco, Itaverava, Catas Altas da Noruega, Piranga, Lamim, Senhora de Oliveira, Capela Nova, Carandaí, Cristiano Otoni, Santana dos Montes, Casa Grande, Queluzito, Entre Rio de Minas, Desterro de Entre Rios, Jeceaba e São Brás do Suassuí.
A região, foi, primitivamente, habitada pelos índios Croatas e Puris, de origem Tupi. Em 1710, o bandeirante Manoel de Melo, depois de passar pelo arraial de Itaverava, atravessou a barco a antiga região de Guarapiranga, que por causa do Rio Piranga, passou a chamar-se Piranga e chegou a um local que achou apropriado para servir como ponto de espera de seus chefiados, exploradores paulistas que foram divididos em três grupos e partiram em rumos diferentes.
Depois retorno do grupo, Manoel de Melo, encantado com a beleza do local marcado para espera dos seus liderados, e percebendo que o mesmo centralizava todo um potencial de expansão de exploração, foi a Itaverava, a fim de comprar provimentos e em 1711, retorna, lançando nele os fundamentos de uma fazenda, onde começou suas explorações e pesquisas. Encontrou algum ouro de aluvião, mas não tendo a sua extração dado lucros, passou a se dedicar à agricultura, cultivando cereais como arroz, milho, feijão e produtos de pequena lavoura, como verduras e legumes, tudo feito com muita dificuldade, pois a atividade era exercida por processo muito rudimentar.
Para tanto, foram trazidos para a região escravos africanos, já encontrados no seu primeiro meio século de existência, eram numerosos e contribuíram muito para o progresso que, pouco a pouco, se notou no povoado. Os habitantes, animados com o desenvolvimento, requereram ao Bispo de Mariana permissão para ser erigida uma capela em honra a Nossa Senhora da Piedade.
Curiosamente, na primeira vez em que foi concedida, a permissão não foi aproveitada, porque houve desavenças com o abastado português Francisco de Souza Rego, que desejava que a capela se localizasse em sua fazenda, onde hoje, é o município de Lamim, resultando no desaparecimento do documento da Permissão. No entanto, o Bispo, novamente solicitado, fez nova concessão.
Assim, em 1760, foi demarcado o lugar para a construção da capela, tendo esta sido concluída depois de 5 anos. A primeira missa foi celebrada em dia 25 de dezembro de 1765, pelo padre Manuel Ribeiro Taborda, primeiro vigário de Itaverava.
Em volta da Capela, onde é a atual Praça da Piedade, ponto central do antigo povoado, nasceu o distrito de Piranga, que, primeiro, chamou-se de Nossa Senhora da Piedade da Boa Esperança e, criado pela Lei Provincial nº 471, de 1º de junho de 1850 ou 1858, confirmada pela Lei estadual de nº 2, de 14 de setembro de 1891. A cidade que hoje tem o nome de Rio Espera foi criada pela Lei estadual nº 556, de 30 de agosto de 1911, criou o município, com desligamento territorial da cidade de Piranga.
DESENVOLVIMENTO URBANO
Seu primeiro homem de espírito mais empreendedor foi o senhor José Rodrigues de Miranda, o Major Miranda, que fundou a escola de ensino de 1ª a 4ª séries primárias, que leva o seu nome e colocou rede de esgoto na cidade.
Em 1960, foi inaugurada, pelo Padre Francisco Miguel Fernandes, a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Piedade, contando, na sua ornamentação com a ajuda de Aleijadinho. Ele também reformou e reinaugurou a praça que a circunda, que continuou com o mesmo nome, mas ornando a bela matriz, que nada fica a dever a muitos santuários, com um lindo jardim.
O Padre, conhecido pela tanto por sua severidade, quanto pelo seu espírito empreendedor, tornou-se, mais que um líder espiritual, mas o melhor administrador que a cidade teve, sem nunca ter tido ou querer ter cargo político. Padre Francisco para uns, Padre Chiquinho, como era conhecido para outros, construiu a Casa Paroquial, o Teatro Municipal, ainda na Praça da Piedade, e, na parta baixa da cidade os prédios das atuais escolas estaduais de primeiro e segundo graus, a saber Escola Estadual Nossa Senhora do Rosário, Escola Estadual Nossa Senhora da Piedade, a capela de Nossa Senhora do Rosário e o atual prédio do Hospital de Rio Espera, já construído com esse propósito. Tinha tanto amor à cidade, que, tendo tornado-se Monsenhor Francisco, mas recusou tornar-se bispo para não ter que sair de lá.
A luz elétrica, que, em tempos remotos, era fornecida pela Usina de Boa Esperança, cuja iluminação era gerada por um motor a óleo colocado pelo então prefeito, também médico, Dr. Carlindo Garcês, o que foi fundamental para o crescimento da cidade, mas ainda assim, a iluminação era muito precária, tanto que alguns fazendeiros tinham sua usina particular de abastecimento, junto aos moinhos de fubá, informações fornecidas pela senhora Maria Augusta Alves dos Reis.
Depois, veio a Cemig abastecendo a iluminação da região, segundo o senhor Luís Anjo, o que aconteceu durante a gestão do então prefeito José Gordiano de São José, seu pai, conhecido como José Anjo, os problemas outrora comuns, como a luz fraca e os constantes apagões terminaram.
Como toda época sempre tem seu lado positivo, deixaram saudades as brincadeiras que ficaram obsoletas sem os apagões, em que as crianças e alguns adultos mais brincalhões criavam nesses períodos, como pregar susto nas pessoas, fazendo: imitações de fantasmas; colocando abóboras cortadas com velas acesas em locais ermos; uivos no cemitério; latas de líquidos amarradas das janelas aos postes pegando desprevenidos os transeuntes que passavam nos passeios; cobras de pano amarradas em barbantes que se mexiam quando a pessoa estava bem perto; e tantas outras que não dá para comentar todas.
Eu que era muito levada e não tinha medo de escuro, brincava também. Uma das brincadeiras que eu mais gostava era de pintar o rosto, os braços e os dentes de carvão, colocar talco no cabelo, vestir roupas velhas de homem, e sair de bengala, mancando pelo centro das ruas escuras. Crianças saíam correndo e perguntavam: Quem é você? Eu dava um grunido incompreensível, como se estivesse falando alguma língua estranha. Outras respondiam: Cê num tá vendo que é assombração? E saíam correndo, uma até mijou nas calças, eu me lembro bem.
Ainda tinham os enamorados, que, aproveitando a deixa, arrumavam um violeiro e iam fazer serenatas para as suas namoradas. Alguns jovens formavam grupos de conversa, fritavam pasteis, frango, assavam carne, tomavam uma caipirinha e ficavam horas a fio contando os causos mais recentes, a maioria jocosos. Os mais velhos ficavam esperando todos chegarem para fecharem suas casas e irem dormir. Que mais fazer se não tinha luz? Rádio de pilha e lamparina acesa. Orar a Deus para os seus.
ADMINISTRAÇÃO POLÍTICO-PARTIDÁRIA
Politicamente, a cidade era administrada, pela antiga Arena, partido político que se subdividiu lá, tendo os partidários da Arena I e Arena II. Foi o cidadão Pedro Antônio de Jesus que, vindo de Juiz de Fora com a família, em 1972, e foi na cidade de Rio Espera, em 1975, que foi o pioneiro, na região do Alto Paraopeba, reunindo um grupo de dissidentes e fundando o antigo Movimento Democrático Brasileiro – MDB (atual PMDB), que era a única oposição da época ao partido da situação. Foi muito criticado inicialmente, pois partido que não era arena só nas capitais e nas grandes cidades. Ninguém no interior se atrevia. Ele, entretanto, considerava que é salutar numa democracia haver mais de um partido político, pois aumentando a disputa, aumentaria também a preocupação dos representantes de um segmento partidário em prestarem bons serviços nas suas administrações, pois, dessa forma, haveria outras opções caso não estivessem agradando.
Pedro, que chegou à cidade transferido e assumiu cargo junto ao Correio, logo ficou comovido ao ver a desinformação e o nível de pobreza da região. Muitos idosos, que não tinham mais capacidade de trabalho, passavam fome e eram desassistidos nos lugares mais distantes do centro da cidade. Conhecedor que era da legislação da Previdência Social, na época, arrumou, sem cobrar quaisquer despesas, aposentadoria para mais de 130 pessoas. Ficava rindo quando a esposa reclamava que alguns, poucos na verdade, mal, mal agradeciam. Dizia que o que fazia era um bem necessário e se não o recebesse pela pessoa beneficiada ou em vida, que Deus daria um jeito de que seus filhos fossem amparados caso precisassem de ajuda, aonde quer que fossem.
Grande admirador e amigo que era de homens empreendedores e destemidos - entre eles, Itamar Franco, Sílvio Abreu Júnior (Juiz de Fora) e Manuel Conegundes (Barbacena), pessoas outrora simples, que se destacaram na luta pela democracia, fazendo oposição e melhorando o lugar em que moravam - não conseguiu ficar de braços cruzados e quis ajudar as pessoas simples e humildes da cidade.
Ele também tinha o ideal de melhorar a agricultura local, que considerava muito rudimentar ainda, visto o plantio gerar apenas o sustento básico, sem que houvesse lucro. Para tanto, pretendia montar, como projeto piloto, em uma das fazendas da região, o que se chama, hoje, de sesmarias, onde sob uma administração central, em forma de cooperativa, famílias de agricultores seriam instruídas como proceder durante o período de plantio e na manutenção da plantação, seria fornecido o adubo, a semente. Aproveitar-se-ia o solo o ano todo com as culturas com possibilidade de cultivo simultâneo e as culturas intercaladas. Além da agricultura, a pecuária. Quando houvesse a colheita, a administração dos cooperados ficaria com 40% da colheita para estocagem e venda, de forma a arrecadar verba para implementação de melhorias. Os cooperados por sua vez que quisessem vender parte do seu percentual, contariam com o apoio logístico.
Mas, não deu tempo. O seu Pedro, como já era conhecido na região inteira, morre em 1977, mas deixa a sua semente. Atualmente, o Partido do Movimento Democrático Brasileiro - PMDB (15) é situação e o Partido Liberal – PL (22) o principal partido de oposição disputam a administração local, mas já surgem partidários do Partido dos Trabalhadores - PT (13) e do Partido Verde – PV (43). A mentalidade mudou um pouco. Já é permitido fundar partidos sem que haja ameaças de morte e que se formem grandes inimizades duradouras. Fundar partido, manifestar-se politicamente, já são ações consideradas naturais dentro do espírito democrático.
O Hospital Municipal de Rio Espera foi, finalmente, inaugurado graças aos esforços do cidadão Benedito Beraldo da Costa, que saiu em busca de apoio político para seu funcionamento junto à família dos Andradas. Monsenhor Francisco ficaria orgulhoso, pois o prédio que construiu ficava sofrendo a degradação do tempo e desuso.
O saneamento básico atual passa a ser feito pela rede da Copasa desde a administração do então prefeito Antônio Guadalupe Cardoso, o Dr. Antônio, que como médico viu a necessidade dessa melhoria para a população local, num modo preventivo de evitar doenças desnecessárias.
Durante a atual administração, do prefeito Luís Balbino Moreira, o asfalto chega até a cidade. A rede municipal de educação e o esporte tiveram grande incentivo. A grande inovação, entretanto, foi que as pessoas doentes que moram longe e não têm condições próprias de deslocamento, após serem tratados no hospital local e receberem alta, passam a receber a visita dos enfermeiros municipais que prestam primeiros socorros básicos, fazem curativos, acompanham o restabelecimento completo de suas condições de saúde.
TURISMO E INFRA-ESTRUTURA
Talvez, pela influência da tradição que se formou durante a época do Padre Francisco, a cidade continuou sendo um lugar muito religioso e suas principais festas, que começaram enquanto ele era o seu vigário, sejam religiosas, a saber Corpus Christi, Semana Santa, Festa Junina, Festa de Nossa Senhora da Piedade, Festa do Rosário, Festa de São José. Como não só de fé vive o homem, ainda na sua época comemorava-se o Carnaval, mais tarde, surge a Festa do Rio-Esperense Ausente – realizada sempre na última semana de julho - e, por último, a Festa da Cachaça, que acontece no último final de semana antes do 7 de setembro. Uma de suas manifestações folclóricas mais bonitas é o Congado.
A cidade de Rio Espera, que fica a 160km a sudoeste de Belo Horizonte, ocupa uma área de 240 km2. Pelos dados do IBGE durante o Censo de 2007, constatou-se uma população de 6.594 habitantes. Além do povo acolhedor e hospitaleiro, a cidade possui pousadas para hospedagem de turistas e viajantes. Fora a beleza peculiar do lugar, entre lindas montanhas, a conta-se, além do que já foi citado, com o Banco do Bradesco, Padaria, Farmácia, Posto de Gasolina, Correios, Rede de Lojas, Mercado, Rede Telefônica para compor a sua infra-estrutura.
Em quase lugar algum, pode-se ter certeza de uma infra-estrutura humano-emocional. Rio Espera é diferente até nisso. Uma característica importante dessa cidade tão querida, é não haver pessoas mendigando, passando fome, frio e sede pelas ruas; sentindo-se sozinhas e desamparadas num momento difícil diante uma perda de um ente querido, enfrentando uma doença na família... Quando alguém está doente e desempregado, está triste por passar um momento difícil, não precisa pedir. As pessoas, generosas, de acordo com a necessidade de cada um, fazem suas visitas, conversam, levam provimentos, convidam para passear, para almoçar, tomar café... tomando cuidado para não vivificar mais o sofrimento latente, não humilhar que já está se sentindo por baixo. Isso se chama solidariedade, e está muito acima da amizade, porque acontece até mesmo entre os que não são tão amigos, que são de partidos e de times contrários; de religiões, de raças, de classes sociais diferentes. Resumindo: um povo que mostra o coração que tem. Talvez, essa bondade nativa se deva à sua grande fé em Deus, passando por cima de todo tipo de mesquinhez humana, para ainda comover-se com a desgraça alheia, e, mais que isso, muito mais importante, fazer alguma coisa. Isso se chama calor humano. Afago de rio-esperense para rio-esperenses. Costuma se estender aos visitantes.
ROTA PARA RIO ESPERA
Para se chegar em Rio Espera, segue-se a BR040 em direção ao Rio de Janeiro, entra-se, primeiro, em Conselheiro Lafaiete e pega-se uma das estradas que vai para a cidade, que fica, aproximadamente, entre 55 a 60km de lá, podendo-se optar, pela ordem, pela via de Santana dos Montes (com grande parte ainda em estrada de chão) ou de Itaverava (praticamente, toda asfaltada).
Aconselho a conhecer esta cidade, que, na sua simplicidade, traz paz e descanso ao morador da cidade e usufruir, além da simpatia do seu povo, do ar puro, do leite gordo tirado da teta da vaca quentinho, do cavalo para montar, das suas quedas d’água dentro das fazendas, das lagoas para quem gosta de pescar, dos alambiques com sua famosa cachaça... Só posso complementar dizendo que quem saiu de lá para trabalhar, volta sempre para matar as saudades.
MAIORES INFORMAÇÕES
Prefeitura
Rua José Galiza, nº 07 - Centro
36460.000 - Rio Espera - Minas Gerais
Fax: (31) 3753-1076
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Osmir Camilo (Org.) Conselheiro. Dados e história do Alto Paraopeba. Conselheiro Lafaiete: Lesma, 2007.
Brasil, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Brasília, IBGE. Rio Espera. Dados históricos e Geográficos de Domínio Público. Disponível acesso ao IBGE Cidades em URL: [http://www.ibge.gov.br]
Entrevistas: Luiz Anjo, Maria Augusta Alves dos Reis.
Lembranças Pessoais: Ana da Cruz.
* Este artigo, que também pode ser considerado uma resenha, é uma homenagem minha à Rio Espera e foi escrito por ainda não existir em nenhuma enciclopédia publicada em editora gráfica ou 'on line' dados mais sobre completos sobre a cidade. Está sendo publicado, aqui, no Recanto das Letras e, abstendo-o das falas que são considerações pessoais a respeito da cidade, de forma mais resumida, na Wikipédia, enciclopédia de referência on line de que sou editora contribuinte. Para tanto foi enviada uma autorização autoral chamada OTR para que conste o conteúdo no site.
CRUZ, Ana. Rio Espera (Homenagens). Recanto das Letras: Código T1274837, 2008. Disponível em URL: [http://www.recantodasletras.com.br/autores/anadacruz]
...