Jarede Viana, Professora de vida!



         Conheci Jarede quando entrei na Universidade. Em 1982, caloura, mas já militando no Movimento Estudantil desde o secundário, participava da restauração do Diretório Acadêmico de Pedagogia e, durante um evento de educação, ela fez uma intervenção. Impressionou-me sua contundência, seu jeito de falar direto e eloquente.
        Encontramo-nos muitas vezes desde então. Sempre estava lutando por um ideal, uma causa. No sindicato, no movimento de mulheres, nos conselhos de educação, na vida política da cidade... enfim, guerreava em muitas frentes. Quando votei nela para vereadora, não me arrependi. Sempre deixou claro de que lado estava e sua firmeza e coerência sempre me ensinaram muito.
         Lembro de um tempo em que, desiludida com a área, procurei fazer outras coisas e ela me disse: ” - Menina, você tem o brilho no olho, a chama que a educação precisa. Não desperdice isso.” Um tempo depois voltei e nunca me esqueci de suas palavras no meu momento de crise. Lembro até do trecho de AGNUS DEI de João Bosco e Aldir Blanc que ela “recitou”: ”.. Ah, como é difícil tornar-se herói/Só quem tentou sabe como dói/Vencer satã só com orações...” e arrematou: “ -É preciso continuar lutando!”
          Um bom par de anos depois, fui como convidada ao Conselho Estadual de Educação, representando a SEMED- Maceió, expor a proposta de avaliação da rede. Coube a Jarede, conselheira, representante dos educadores, apresentar- me ao Pleno e convidados. E ela relembrou passagens de minha trajetória de vida acadêmica e profissional com uma delicadeza e generosidade que me emocionou.
           Em meados de 2007, estávamos juntas numa atividade do Conselho Municipal de Maceió, ela representando o sindicato dos trabalhadores da Educação, recuperando-se das quimios que fazia para tratar  de sua doença e eu lhe passei um bilhetinho: “SE NÃO MORRE AQUELE QUE ESCREVE UM LIVRO OU PLANTA UMA ÁRVORE, COM MAIS RAZÃO NÃO MORRE O EDUCADOR QUE SEMEIA A VIDA E ESCREVE NA ALMA(BERTOLD BRECHT).” Me deu um abraço e um sorriso, pegou minha cola bastão e colou o bilhete na agenda. Não tenho certeza, mas acho que foi a última vez que nos vimos.

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        Querida professora Jarede, soube a pouco de sua partida e quedo-me triste diante do inexorável. Inevitável o nó na garganta, a lágrima e a evocação do hino que muito se cantou hoje: “Ou ficar a Pátria livre, Ou morrer pelo Brasil...” Todas essas boas lembranças me vieram e aqui quero agradecer por tudo de bom e belo que plantou em minha alma de educadora. Nossa trincheira ficou mais pobre, mas seu exemplo de força e coragem no enfrentamento de tantas batalhas são e serão lições fundamentais para todos e todas que acreditam num mundo mais justo e solidário.
          Siga em paz. Tenha certeza que enquanto houver educadores e educadoras com “o brilho no olho, com a chama que a educação precisa” sua luta por uma EDUCAÇÃO PÚBLICA com QUALIDADE SOCIAL continuará bandeira em cada sala de aula, em cada atividade sindical, em cada Conselho de Educação.
Um abraço!E pra você que sempre citava os poetas, Milton Nascimento: " Mas é preciso ter força/É preciso ter raça/É preciso ter gana sempre...”
"Amigo é coisa para se guardar/Debaixo de sete chaves/Dentro do coração/Assim falava a canção que na América ouvi/Mas quem cantava chorou/Ao ver o seu amigo partir...”
       E na lição de Adélia Prado e João Guimarães Rosa, despeço-me:
“Eu sempre sonho que uma coisa gera,
nunca nada está morto.
O que não parece vivo, aduba.
O que parece estático, espera.” (AP)


As pessoas não morrem. Ficam encantadas." (JGR).

Maceió, 07/09/2008