Um pedaço de mim
Meu tio toca violão;
E como toca bonito o violão que meu tio toca;
O violão bonito que meu tio toca
Toca o meu tio e a mim me toca;
E fico quieto olhando meu tio
Que pára e me olha, sorri e me chama
Pra perto de si; e volta a tocar;
Não ouso falar, só ouço a magia
Do som que se espalha;
Meu tio se espraia nas cordas do pinho
E deixa estampado em seu rosto bonito
O gozo da alma liberta.
O tempo passou e meu tio, pra longe mudou-se,
Levou o seu pinho de cordas de aço
E eu não tive mais notícias
Daquele pedaço de mim;
Mas hoje, eis que chega fazendo festa,
Trazendo com ele o seu violão,
Estão iguaiszinhos, o pinho e meu tio,
Com as marcas do tempo, é claro
Tantos anos que não se passaram
Apenas nos presentearam com belas cãs;
E meus olhos ficaram embaçados
Ao ver meu pedaço comigo de novo
E ele tocou bonito o velho pinho de cordas de aço,
Olhou pra mim e me sorriu o mesmo sorriso;
E eu, outra vez menino, fui para o seu lado
Ouvir o violão que meu tio toca,
E como toca bonito o violão,
O violão bonito que meu tio toca
Toca o meu tio, e a mim me toca.