NAMORAR COM
Neste dia dos namorados, eu quero deixar um pouco de confusão na cabeça de muitos. Aprendi que, de acordo com a norma-padrão da língua portuguesa, não se deve dizer nem escrever “namorar com”. Esta forma pertence apenas à variedade coloquial (comum, popular) da nossa língua. A “Novíssima Gramática da Língua Portuguesa”, 48ª edição, ano 2008, de Domingos Paschoal Cegalla, na página 502, registra: “A regência correta é namorar alguém, e não namorar com alguém”. Exemplos extraídos dessa obra:
“Joaquim namorava a filha do patrão.”
“Ela namora um oficial da Marinha.”
“Trabalha com a atriz, mas não a namora.”
A obra “A Gramática do Concursando”, 18ª edição, ano 2009, de José Almir Fontella Dornelles, na página 270, registra: “Paula namorava todos os rapazes da rua”. Na página seguinte, essa gramática faz esta observação: “O vício é usar a preposição COM”. E mostra um exemplo que, segundo a norma-padrão, é INCORRETO: “Raimunda só foi feliz namorando COM Ricardo”. O correto, de acordo com a gramática, é eliminar a preposição COM.
É assim que se ensina nas escolas do Brasil. Na internet, os professores de português transmitem esses ensinamentos. Os livros didáticos ordenam. Os professores que publicam livros sobre este assunto mostram a mesma coisa. O professor Sérgio Nogueira, por exemplo, assim ensina. Eu já ensinei assim em Pastos Bons. Neste caso, o verbo “namorar” é transitivo direto.
NO ENTANTO, EIS O CONTRÁRIO:
O “Caldas Aulete: minidicionário contemporâneo da língua portuguesa”, 2011, legitima as duas formas. No sentido de “ter relações amorosas” com alguma pessoa, namorar é considerado transitivo direto e indireto: “Juliana namora o Jonas” ou “com o Jonas”. Intransitivo: “Namoramos desde os 15 anos”. No sentido de “desejar (algo); olhar para (algo) desejando”, é transitivo direto: “Há tempos namoro esta moto”.
Veja exemplos do “Fala Brasil! Dicionário Ilustrado da Língua Portuguesa”, 2011:
“Quando era jovem, eu namorei uma escritora.”
“Quando era jovem, eu namorei com uma escritora.”
“Sabia que a Cássia e o Tadeu estão namorando?”
“Esses dois se namoram desde que eram adolescentes.”
O “Caldas Aulete: dicionário escolar da língua portuguesa: ilustrado com a Turma do Sítio do Pica-pau Amarelo”, 2011, explica: “Uma pessoa namora outra, ou com outra, quando elas têm uma relação de afeto, ou de amor”. Neste caso, “namorar” é transitivo direto e transitivo indireto: “Iara namora Pedro há dois anos”, ou: “Iara namora com Pedro há dois anos”.
O “Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa”, 2004, registra o verbo namorar como transitivo indireto, no sentido de “manter relação de namoro; ser namorado”, e cita alguns autores. Vejamos os exemplos:
“O Promotor namorava com a filha do coronel Quincas.” (Bernardo Élis, Caminhos e Descaminhos)
“Edílio está namorando com Mirna.” (Dias da Costa, Canção do Beco)
“Por que você não poderia namorar com americanos?” (Carlos Castelo Branco, Continhos Brasileiros)
O Aurélio faz esta observação: “O uso de namorar com esta regência é perfeitamente legítimo, moldado em casar com e noivar com”.
Nota – Mas o Aurélio apresenta NAMORAR como transitivo direto também, que é a regência defendida pelas escolas, pela tradição.