Zero
Parece-me oportuno citar Eduardo Martins, no seu "Manual de Redação e Estilo", a propósito da palavra «zero»:
"Zero indica singular apenas: zero hora, zero grau, zero-quilômetro". Manteve-se a ortografia de origem.
Ora, sendo assim, é erro dizer-se "zero horas", "zero graus", "zero-quilómetros", etc.
Ir contra o uso de qualquer dessas formas é dar murro em ponta de faca.
Só Albano B. J. seria capaz de escrever zero "horas". Já agora … se quiser escrever torto…
Há, ainda, quem escreva zero "horas", como fez um jornalista de um dos nossos jornais semanais de informação:
"Apesar da guerra, a independência de Angola foi proclamada, às ZERO HORAS do dia 11 de Novembro de 1975, pelo Presidente do MPLA, o camarada António Agostinho Neto."
Vocês pensam que é brincadeira? Nada! O jornalismo angolano acha que ZERO é plural: zero HORAS, zero GRAUS, zero-QUILÓMETROS.
Quem conhece a estrutura da língua jamais constrói dessa forma. Ou seja, quem aprendeu a fazer análise sintáctica, não escreve assim. Como nas escolas angolanas já não se ensina análise sintáctica (“é coisa do passado”, como querem os artistas vanguardistas da nossa Educação), o erro aparece constantemente nos nossos jornais e revistas, porque os jornalistas de hoje, a ver-se como escrevem, não aprenderam a fazer análise sintáctica.
Se ZERO é singular, e não plural, o nome «hora» tem de ficar no singular, e não ir no plural, não importando se depois dele vem plural.
Senhores jornalistas, prestem atenção: diz-se e escreve-se zero hora. Uma hora, duas horas. O plural só se usa a partir de dois.
Essa observação é meramente pessoal, pois não faço lei na língua, como sempre D’ Silvas Filho afirma.
Como se tudo não bastasse, aparece um jornalista desportivo que envereda por uma segunda via, usando a palavra "bolas" com o nome zero:
Na primeira volta do Girabola, o Kabuscorp perdeu com o Libolo, por ZERO BOLAS a uma, no estádio de Calulo, na província do Cuanza Sul, ao passo que na segunda etapa da compita as duas formações empataram sem golos nos Coqueiros, e por isso ainda que os palanquinos alcancem os calulenses em pontos, já não chegam ao título. É com respeito e dignidade que os palanquinos admitiram a derrota.
E o sujeito, no fim, ainda fala em respeito e dignidade. Mas não revelou nenhum respeito à língua. Espero que melhore…
Mas um jornalista desportivo do jornal "A REPÚBLICA" acertou em cheio, ao escrever:
O Sporting de Cabinda, já despromovido para a II Divisão, deu o ar da sua graça no estádio 4 de Janeiro, ao perder com a União Sport do Uíge, por ZERO BOLA a uma, com golo de Ridick, aos 11 minutos da partida.
Quando eles acertam, nada mais justo que cumprimentá-los. É o que estamos prazerosamente fazendo neste instante.
Teria acertado por acaso ou já sabe ele que «zero» indica singular (apenas), e não plural?
Será que ele realmente se convenceu de que não acertava e a partir de agora vai continuar a ser razoável?...