Pontapé na locução «imediato» – Registo e comentário crítico de maus usos da língua na nossa imprensa
Diz-se e escreve-se IMEDIATO ... e não "de imediato". Talvez melhor: imediatamente. [Tornou-se um modismo e pode ser substituído, com vantagem, por outras expressões de sentido equivalente: desde logo, logo, a seguir, etc...].
Será que os jornalistas angolanos sabem disso? Vamos a ver, baseados na página 18 de uma das nossas revistas de 2011:
Os países da OPEP apresentaram-se, DE IMEDIATO, a suprir a produção Líbia (que terá reduzido de 1,6 milhões de barris diários para 300 barris), em especial a Arábia Saudita, que disputa com a Venezuela o estatuto de país que detém as maiores reservas mundiais, e que possui uma capacidade excedentária da ordem dos 3,5 milhões de barris diários. A Arábia Saudita terá aumentado, DE IMEDIATO, a sua produção para cerca de 9 milhões de barris diários, um milhão a mais que a quota que lhe está fixada pela OPEP.
Não, acho que ainda não sabem…
O "de imediato", no caso, é perfeitamente dispensável, tanto quanto nesta frase de um funcionário do Ministério do Interior, que se diz comandante geral da Polícia Nacional:
Qualquer cidadão que detiver em flagrante delito um outro deve DE IMEDIATO encaminhar o caso às autoridades e não por si fazer justiça.
Vejam agora, só por curiosidade, como deu pontapé na locução «imediato» um jornalista de um dos nossos jornais semanais, ao redigir o seu texto sobre a ameaça de dois arguidos implicados no célebre caso BNA (devido às revelações que tem vindo a publicar sobre o tema) para com Mariano Brás:
Entretanto, sabe-se que a direcção do jornal «A Capital», p ara o qual trabalha Mariano Brás, já formalizou uma queixa junto da Direção Nacional de Investigação Criminal (DNIC), que, por sua vez, abriu DE IMEDIATO uma investigação sobre o caso. Por enquan¬to, os nomes dos indivíduos não podem ser divulgados, para não atrapalhar o trabalho da polícia.
Os nossos jornalistas julgam (e perdoem-lhes se estão a ser ignorantes ou distraídos) escrever suficientemente bem e acham dispensável a contratação de pessoas especializadas para auxiliar na elaboração de textos.
O mais curioso é que a locução "de imediato" está registada no "Dicionário Houaiss". Mas nesse dicionário (lá entre os brasileiros) tudo é perfeitamente normal... Quem o segue corre o risco de se lambuzar, como talvez tenha feito a pessoa que escreveu isto:
Quanto à dúvida do nosso consulente Henriques Bambi, explicamos DE IMEDIATO sobre quando é que se usa «adesão» e «aderência»
Foi-se o tempo em que se chegava a uma livraria e se trazia um dicionário seguro, confiável, sem atropelos e entulhos.
A gente pega, então, um jornal e começa a ler. Lá vem um dos jornalistas nos informar, com ares de quem quer formar opinião:
"Nos lembramos de ter escrito nos finais dos anos 80, ainda no Jornal de Angola, uma crónica ou um artigo a denunciar determinada situação negativa que terá merecido DE IMEDIATO uma reacção presidencial a «repor a legalidade», que foi recebida como um prémio. Na verdade, sabe sempre muito bem a um jornalista confirmar que o que escreveu, com a pretensão de ver melhorada ou banida alguma coisa, afinal, não caiu em saco roto. Ou seja: «quem de direito» tomou as devidas medidas."
A locução correcta, desde os tempos de Camões, é IMEDIATO. Mas muitos jornalistas angolanos, que mal sabem quem foi Camões, acabaram por criar outra: "de imediato".
Deu a impressão, ao menos para mim, que, pelo menos neste assunto, os nossos jornalistas devem enveredar pelo caminho da correcção. Afinal, vale a pena brigar com o não óbvio.
(Vide Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, "Glossário – Erros mais frequentes".)